Revista Exame, Segunda quinzena de julho de 2008.
O suíço Daniel Vasella, presidente da Novartis, é um dos expoentes da indústria farmacêutica mundial. Médico de formação, ele decidiu abandonar o consultório em 1988, aos 35 anos de idade, para trabalhar na área de vendas da fabricante de medicamentos americana Sandoz. Vasella fez, então, uma carreira rápida e bem-sucedida e, em 1996, assumiu o comando da Novartis, empresa resultante da fusão da Sandoz com a Ciba-Geigy e uma das cinco maiores do mundo no setor. Anos atrás, durante uma entrevista, Vasella foi perguntado sobre como sua empresa conseguia criar os medicamentos de sucesso exigidos pelos investidores. Sua resposta foi tão direta quanto surpreendente. “Você cria um desejo”, afirmou ele, como se estivesse falando de um produto de consumo como qualquer outro.
Quem fez a pergunta a Vasella foi a jornalista Melody Petersen, ex-repórter do The New York Times, especializada na cobertura da indústria farmacêutica. Depois de vários anos nesse privilegiado posto de observação, Melody decidiu revelar os meandros do bilionário mercado de saúde. O resultado está no recém-lançado Our Daily Meds — How the Pharmaceutical Companies Transformed Themselves into Slick Marketing Machines and Hooked the Nation on Prescription Drugs (numa tradução livre, “Os remédios nossos de cada dia: como as empresas farmacêuticas se transformaram em máquinas de marketing escorregadias e viciaram a nação em drogas prescritas”). Para Melody, os tempos quase românticos em que a indústria farmacêutica era movida por cientistas e médicos interessados em pesquisar a cura de doenças graves ficaram inexoravelmente para trás. Agora, o setor — fundamental para o bem-estar e para a longevidade — é dominado por marqueteiros. “Vender remédios, e não inventá-los, tornou-se a obsessão”, diz ela.
As empresas parecem estar triunfando nessa nova missão. Em 2005, os americanos gastaram 250 bilhões de dólares em remédios vendidos sob prescrição médica — mais do que consumiram com fast food ou gasolina, por exemplo. Se comparado a outros países, esse volume é ainda mais impressionante. Os Estados Unidos gastam mais com remédios que Japão, Alemanha, França, Itália, Espanha, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, México, Brasil e Argentina — juntos. Em 2006, um americano tomou, em média, 12 remédios prescritos por médicos — em 1994, a média foi oito. Entre a população idosa, o índice chega a 30 drogas anualmente. Graças a essa epidemia, entre 1995 e 2002, a indústria farmacêutica foi o setor mais lucrativo da economia americana. Em 2004, segundo dados da revista Fortune, a cada dólar vendido pelas farmacêuticas, 16 centavos se transformavam em lucro — ante a média de 5 centavos dos outros setores.
O suíço Daniel Vasella, presidente da Novartis, é um dos expoentes da indústria farmacêutica mundial. Médico de formação, ele decidiu abandonar o consultório em 1988, aos 35 anos de idade, para trabalhar na área de vendas da fabricante de medicamentos americana Sandoz. Vasella fez, então, uma carreira rápida e bem-sucedida e, em 1996, assumiu o comando da Novartis, empresa resultante da fusão da Sandoz com a Ciba-Geigy e uma das cinco maiores do mundo no setor. Anos atrás, durante uma entrevista, Vasella foi perguntado sobre como sua empresa conseguia criar os medicamentos de sucesso exigidos pelos investidores. Sua resposta foi tão direta quanto surpreendente. “Você cria um desejo”, afirmou ele, como se estivesse falando de um produto de consumo como qualquer outro.
Quem fez a pergunta a Vasella foi a jornalista Melody Petersen, ex-repórter do The New York Times, especializada na cobertura da indústria farmacêutica. Depois de vários anos nesse privilegiado posto de observação, Melody decidiu revelar os meandros do bilionário mercado de saúde. O resultado está no recém-lançado Our Daily Meds — How the Pharmaceutical Companies Transformed Themselves into Slick Marketing Machines and Hooked the Nation on Prescription Drugs (numa tradução livre, “Os remédios nossos de cada dia: como as empresas farmacêuticas se transformaram em máquinas de marketing escorregadias e viciaram a nação em drogas prescritas”). Para Melody, os tempos quase românticos em que a indústria farmacêutica era movida por cientistas e médicos interessados em pesquisar a cura de doenças graves ficaram inexoravelmente para trás. Agora, o setor — fundamental para o bem-estar e para a longevidade — é dominado por marqueteiros. “Vender remédios, e não inventá-los, tornou-se a obsessão”, diz ela.
As empresas parecem estar triunfando nessa nova missão. Em 2005, os americanos gastaram 250 bilhões de dólares em remédios vendidos sob prescrição médica — mais do que consumiram com fast food ou gasolina, por exemplo. Se comparado a outros países, esse volume é ainda mais impressionante. Os Estados Unidos gastam mais com remédios que Japão, Alemanha, França, Itália, Espanha, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, México, Brasil e Argentina — juntos. Em 2006, um americano tomou, em média, 12 remédios prescritos por médicos — em 1994, a média foi oito. Entre a população idosa, o índice chega a 30 drogas anualmente. Graças a essa epidemia, entre 1995 e 2002, a indústria farmacêutica foi o setor mais lucrativo da economia americana. Em 2004, segundo dados da revista Fortune, a cada dólar vendido pelas farmacêuticas, 16 centavos se transformavam em lucro — ante a média de 5 centavos dos outros setores.
A prevenção na saúde, baseada em alimentação equilbrada, repouso, ar puro, água e confiança plena em Deus, é desconsiderada por muitos profissionais. Talvez o motivo resida no fato de que a indústria farmacêutica precisa vender e, através de médicos, ela consegue isso. Tomar remédios é necessário em várias ocasiões, mas o uso desenfreado é um problema sério e podem ter certeza de que é uma realidade não apenas nos EUA, mas no Brasil. A prevenção é barata e realmente precisa ser levada mais em consideração pelas pessoas.