Censo do IBGE mostra diversidade religiosa. E o que significa isso?

sexta-feira, 29 de junho de 2012 0 comentários

Hoje, sexta, no site do IBGE.



Os resultados do Censo Demográfico 2010 mostram o crescimento da diversidade dos grupos religiosos no Brasil. A proporção de católicos seguiu a tendência de redução observada nas duas décadas anteriores, embora tenha permanecido majoritária. Em paralelo, consolidou-se o crescimento da população evangélica, que passou de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010. Dos que se declararam evangélicos, 60,0% eram de origem pentecostal, 18,5%, evangélicos de missão e 21,8 %, evangélicos não determinados. A pesquisa indica também o aumento do total de espíritas, dos que se declararam sem religião, ainda que em ritmo inferior ao da década anterior, e do conjunto pertencente às outras religiosidades.Os dados de cor, sexo, faixa etária e grau de instruçãorevelam que os católicos romanos e o grupo dos sem religião são os que apresentaram percentagens mais elevadas de pessoas do sexo masculino. Os espíritas apresentaram os mais elevados indicadores de educação e de rendimentos.
As mudanças, no entanto, não se restringem à composição religiosa da população brasileira. O Censo 2010 também registrou modificações nas características gerais da população, como, por exemplo, a aceleração do processo de envelhecimento populacional, a redução na taxa de fecundidade e a reestruturação da pirâmide etária. A investigação sobre cor ou raça revelou que mais da metade da população declarou-se parda ou preta, sendo que em 21 estados este percentual ficou acima da média nacional (50,7%). As maiores proporções estavam no Pará (76,8%), Bahia (76,3%) e Maranhão (76,2%). Apenas em Santa Catarina (84,0%), Rio Grande do Sul (83,2%), Paraná (70,3%) e São Paulo (63,9%) mais da metade da população havia se declarado branca em 2010.
Além disso, quase 46 milhões de brasileiros, cerca de 24% da população, declarou possuir pelo menos uma das deficiências investigadas (mental, motora, visual e auditiva), a maioria, mulheres. Entre os idosos, aproximadamente 68% declararam possuir alguma das deficiências. Pretos e amarelos foram os grupos em que se verificaram maiores proporções de deficientes (27,1% para ambos). Em todos os grupos de cor ou raça, havia mais mulheres com deficiência, especialmente entre os pretos (23,5% dos homens e 30,9% das mulheres, uma diferença de 7,4 pontos percentuais). Em 2010, o Censo registrou, ainda, que as desigualdades permanecem em relação aos deficientes, que têm taxas de escolarização menores que a população sem nenhuma das deficiências investigadas. O mesmo ocorreu em relação à ocupação e ao rendimento. Todos esses números referem-se à soma dos três graus de severidade das deficiências investigados (alguma dificuldade, grande dificuldade, não consegue de modo algum).


Nota: Em uma lida mais cuidadosa dos dados, fica claro que a hegemonia religiosa tradicional católica cada vez é menor no Brasil. Ao mesmo tempo, abre espaço para uma maior pulverização religiosa com crescimento evangélico especialmente o pentecostal. É um ponto positivo, como mencionou o professor de comunicação Nilson Lage em seu twitter hoje, para os que defendem o estado laico. Isso significa dizer que estatisticamente cada vez se justifica menos o controle das decisões que envolvem a questão da religiosidade por parte de uma determinada religião em detrimento de outras. Os números demonstram que o equilíbrio entre católicos, evangélicos e praticantes de outras religiões é mais evidente. 
Não tenho dados aqui para dizer agora, mas minha leitura dessa divulgação do censo do IBGE é a de que o número dos que se pronunciam ou se apresentam sem religião é bem mais expressiva do que se pensa. Somavam, em 2010, em torno de 15 milhões, evidentemente um número bem menor do que todos os evangélicos e católicos juntos. Mas é um dado que deveria fazer pensar até mesmo como os religiosos lidam com os não religiosos ou que se dizem sem religião e vice-versa. Criticar religiões, adotar uma postura preconceituosa e desrespeitosa é uma prática destituída de qualquer sentido prático, já que as estatísticas apontam para um país de muitas crenças distintas e com grupos bem identificados. Vale a máxima bíblica, nas palavras de Jesus Cristo, de "nos amarmos uns aos outros" e "não julgarmos para não sermos julgados". 

Lançada revista brasileira sobre uso da maconha

domingo, 17 de junho de 2012 0 comentários


Folha de São Paulo, 17.06.2012.


Recém-lançada, 'semSemente', primeira publicação do gênero no país, defende a regulamentação da erva


Cultivo caseiro inibiria o tráfico, afirmam criadores da revista; conduta é crime, sujeito a penas alternativas

A "cultura canábica" -o universo em torno do consumo e do cultivo caseiro da maconha-acaba de ganhar um veículo para se expressar no Brasil. Com 10 mil exemplares, periodicidade bimestral e 64 páginas, chegou às bancas neste mês a "semSemente", primeira revista especializada em maconha no país.

Os editores, Matias Maxx, 31, e Wiliam Lantelme, 36, são os primeiros organizadores da Marcha da Maconha, realizada desde 2007.

A previsão era que o título chegasse às bancas há um mês, na marcha do Rio, mas a gráfica que iria imprimir os exemplares desistiu, temendo problemas com a Justiça.

Além do debate político, a revista traz reportagens sobre o cultivo caseiro da droga, HQs, receitas com a erva e eventos como a Copa Canábica, em que cultivadores apresentaram suas extrações, em local secreto em SP, em maio.

"O projeto é antigo. A certeza de que a publicação vingaria sempre conflitou com a paranoia da repressão imediata", diz Maxx. A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de 2011, excluindo a interpretação que via apologia em atos como a Marcha da Maconha, abriu o caminho.

A mais tradicional publicação do gênero é a "High Times", dos EUA, criada em 1974. Há também revistas na Argentina e no Chile.

As duas grandes bandeiras da "semSemente" são a regulamentação da maconha e o incentivo ao cultivo caseiro, de preferência com hidroponia (com água e sem terra).

Pela argumentação, o cultivo caseiro inibiria o tráfico e ainda proporcionaria uma melhor qualidade da erva.

"O fumo que se compra nas ruas hoje (...) é mal cultivado e cheio de impurezas. Tem amônia e outras substâncias", diz Lantelme, que fuma 30 gramas por semana (ou cerca de 50 cigarros).

DEBATE

Hoje, o porte e plantio para uso pessoal é passível de penas alternativas. Prisão, não mais. Porém a conduta ainda é considerada crime.

A comissão de juristas do Senado que debate a reforma do direito penal apresentou em maio uma proposta de descriminalizar o usuário.

A autora da proposta, a defensora pública Juliana Belloque, afirma que se baseou em uma tendência mundial e na necessidade de reduzir o número de prisões de usuários por tráfico. "Mas descriminalizar o uso não significa regulamentar. Estamos propondo um passo mais tímido."

Para o jurista Ives Gandra Martins, permitir a descriminalização ou iniciativas como a revista e a Marcha da Maconha é um equívoco. "Não é incentivando o uso indiscriminado que vamos combater o tráfico. E quanto ao argumento da liberdade de expressão, penso diferente. A democracia consiste em gerar responsabilidade social antes de mais nada."

Em 2008, pesquisa do Datafolha mostrou que 76% são contra legalizar a maconha.

Nota: Para mim, a última frase da reportagem é bastante significativa. Apesar de toda mobilização de líderes e influentes pensadores e defensores da legalização da maconha, boa parte das pessoas ainda é contrária. E cientificamente há muitas pesquisas que comprovam os danos que o uso dessa droga causa. Concordo totalmente com Ives Granda, pois essa questão de livre expressão para defesa de uma droga perniciosa e prejudicial à saúde mental e física é desculpa para o uso indiscriminado. Não creio que a legalização da maconha vá diminuir ou utopicamente eliminar o tráfico de drogas no Brasil ou em qualquer parte do mundo. O que poderia sensivelmente produzir alguma mudança é educação e religiosidade consistentes. Mas, no caso do Brasil, educação infelizmente é motivo de muito discurso e tímidas ações governamentais e poucos brasileiros se sentem motivados a realmente estudar e se desenvolverem culturalmente. No caso da religiosidade, a necessidade é de apego ao que a Bíblia efetivamente ensina e não redes de mercantilização de produtos associados à fé. Mais um desserviço ao país para lucro de certamente algum grupo que está por trás desses movimentos e vai ganhar muito com essa revista e com toda essa conceituação pró-maconha.


Homem condenado por dizer que Deus não existe

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O Globo Online, 17.06.2012.


Por escrever as palavras “Deus não existe” em uma página da rede social Facebook, Alexander Aan, de 30 anos, foi processado e condenado a dois anos e meio de prisão na Indonésia. Segundo a decisão divulgada pela Justiça do país nesta quinta-feira, o funcionário público da província de Sumatran Oeste foi considerado culpado pelos crimes de blasfêmia e violação das leis da internet. Ele participou de um debate na rede social e teria pedido a usuários muçulmanos provas de que Alá existe.
Além da pena no cárcere, Aan terá que pagar 10.598 rúpias de multa (cerca de US$ 1.126) por “divulgar o ateísmo”, segundo a emissora “Aljazeera”. Os promotores do caso pediram uma pena de três anos e meio de reclusão, mas a corte reduziu a punição em um ano. Os advogados de Aan disseram que vão recorrer. Ativistas de direitos humanos da ONG Human Rights Fights militavam pela absolvição do acusado.
Segundo entrevista de Endy Bayuni, editor-chefe do “Jakarta Post”, à Aljazeera, a Constituição da Indonésia garante liberdade religiosa aos cidadãos, mas também exige que o indivíduo tenha uma religião. A discussão online de Aan teria ofendido a religião dos outros internautas e por isso o crime seria considerado blasfêmia, explicou o jornalista.

Nota: Cada país estabelece suas leis, inclusive em relação a crenças e questões religiosas. Mas o que me preocupa é o contexto que está por trás desse tipo de condenação. É de conhecimento público que a Indonésia é um dos país com maior número de muçulmanos declarados em todo o mundo, superando inclusive países do Oriente Médio. Até aí, tudo bem, é uma realidade histórico-cultural. É direito do país ter ou não ter uma religião oficial. O que causa apreensão é a intolerância que se revela em atos dessa natureza. O mesmo tipo de condenação que esse indivíduo sofreu poderá ser experimentado por aqueles que, publicamente, opuserem-se a qualquer dos ditames religiosos considerados preconizados pelo governo. 
Achei curioso que a reportagem diz que a constituição da Indonésia garante liberdade religiosa aos cidadãos. Não percebi exatamente onde essa liberdade existe. A intolerância é uma das maiores ameaças à livre expressão religiosa no planeta. Tanto da parte de cristãos, quanto muçulmanos, ateus, budistas, hinduístas, entre outros grupos que defendem suas crenças ou o fato de não crerem como a maioria. 
Foi a intolerância religiosa ou a incapacidade de respeitar o direito de o outro pensar diferente que causaram as perseguições aos primeiros cristãos, nos primeiros anos por parte da liderança judaica, depois por parte dos dominantes povos pagãos à época e posteriormente dentro da própria igreja cristã. Penso que, conforme a Bíblia diz, o fato se repetirá em nossos tempos logo mais quando o pensar diferente em termos religiosos será motivo de amplas restrições por parte, inclusive, dos que hoje advogam grande concessão de direitos à expressão. 


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/na-indonesia-homem-condenado-por-dizer-que-deus-nao-existe-5201849#ixzz1y3nPfaAr
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Novas máximas, velhos conceitos

quinta-feira, 7 de junho de 2012 0 comentários

O mundo corporativo e o mundo espiritual, sobretudo bíblico, podem realmente estar em campos distintos e até opostos, mas alguns conceitos se tornam comuns hoje em dia. Desde que comecei a contrastar os ensinamentos expostos em um dos livros mais antigos do mundo – a Bíblia Sagrada – com as teorias, estudos e afirmações de pensadores da estratégia corporativa especialmente no marketing e de comunicação fiquei surpreso. Constato, cada vez mais, que há pontos de convergência claros entre os dois universos.

Kotler, referência há décadas em marketing no planeta, registrou em um dos seus mais recentes livros chamado Marketing 3.0 – as forças que estão definindo o novo marketing centrado no ser humano, que “a necessidade espiritual é o maior motivador da humanidade, que libera a mais profunda criatividade humana”. Ele e os outros dois autores que assinam a obra inferem que o atendimento ao consumidor hoje passa não apenas pela satisfação das necessidades básicas, de segurança ou sociais apenas, mas a autorrealização que passa necessariamente por questões mais profundas como as espirituais. São deduções de homens de negócio muito semelhantes às palavras de Jesus Cristo séculos antes em discursos proferidos em montes do Oriente Médio. Os evangelistas registraram máximas de Jesus que soam extremamente familiares com a retórica de Kotler a respeito das necessidades humanas como em trechos onde está dito que “busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas” (Mateus 6:33).
Em recente congresso latinoamericano de comunicação corporativa, que pude assistir, vi cerca de dez palestras sobre as mais diferentes abordagens e estratégias para tornar a comunicação mais eficaz. Em síntese, entendi que três palavras são essenciais: planejamento, relacionamento e autenticidade.
O planejamento é considerado elemento indispensável para sucesso em qualquer ação empresarial. Milhares de livros existem a respeito unicamente deste tema. Autores exageram e chegam a deificar o planejamento como soberano de tudo e todos. Mas o ministério de Jesus Cristo nos fala muito de planejamento e preocupação em se alcançar metas bem perceptíveis. Cristo não passou três anos e meio entre a humanidade sem um objetivo traçado. Foi assertivo, pois, conforme assinalou Lucas no capítulo 19 e versículo 10, “o Filho do homem veio para buscar e salvar o que estava perdido”. E dessa maneira Ele trabalhou ao formar líderes com perfil de discípulos, ao atender a multidão em suas necessidades básicas e ensiná-las ao mesmo tempo e a, finalmente, morrer na cruz consumando o plano (planejamento) original alinhado com a vontade de Seu Pai.
Relacionamento é palavra da moda no mundo corporativo, especialmente por causa da febre do uso de redes sociais virtuais. De cada cinco palestrantes do congresso do qual participei, quatro falaram acerca da necessidade de executivos saberem se comunicar com as pessoas através de Twitter, Facebook, Pinterest, Linkedin, etc. Em algumas corporações multinacionais, foram estruturadas equipes com mais de 30 ou 40 pessoas exclusivamente para dialogar com os clientes na web. Há centenas de anos, Jesus Cristo e Seus discípulos (os 12 e posteriormente os demais) destacaram, com notável antecipação, que relacionamento com as pessoas é o que garante adesão e compartilhamento de ideias e conceitos e convence as pessoas de algo. No encontro a mulher siro-fenícia, Jesus proporcionou um momento para que uma piedosa cidadã da região de Decápolis mostrasse sua grande confiança em Deus e servisse pedagogicamente e exemplo aos Seus seguidores mais próximos que ainda vacilavam na fé e pensavam que só havia gente religiosa nos arredores de Jerusalém. Trabalho puro de relacionamento com o público-alvo.
E finalmente ressalto a palavra autenticidade, objeto de muitos comentários dos palestrantes. É até engraçado ver como ser autêntico começa a ganhar importância no mundo corporativo. Esse elemento deveria permear sempre as ações e projetos das empresas, mas somente agora adquire um status de maior respeito e consideração. O motivo é que o consumidor de hoje recebe uma quantidade maior de dados a respeito do que se passa no planeta e com uma rapidez muito maior do que no passado. Não significa que as pessoas estão mais cultas, mas são submetidas a uma maior quantidade do que se chama de informação. Com isso, reagem mais e questionam o que as corporações falam sobre si mesmas. Por isso, o quesito autenticidade merece mais preocupação no segmento empresarial. Ser autêntico, no mundo corporativo, é não mentir ao consumidor para que ele continue adquirindo produtos ou serviços. Mas na dimensão espiritual, autenticidade é sinônimo de lealdade a Deus que é autêntico em essência. É mais do que um comportamento, contudo se traduz em um estilo de vida ou uma maneira de ser.
Jesus declarou que os homens deveriam ser a luz do mundo. Esse conceito é extremamente abrangente e tem íntima relação com a ideia de autenticidade, pois ser luz implica necessariamente não estar na escuridão ou na obscuridade. É conseguir iluminar a partir do ato de refletir a luz maior (Cristo) na vida. Talvez as coporações não se permitam ir tão fundo nesse conteúdo, mas a Bíblia vai. E é por isso que os dois universos ainda são bastante distantes, apesar de o mundo corporativo começar a seguir a mesma lógica milenar dos  ensinos cristãos.

Felipe Lemos é jornalista, pós-graduado em marketing estratégico e atua hoje como assessor de comunicação

 
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