MÉDICOS DIVERGEM SOBRE CIRCUNCISÃO EM BEBÊS

domingo, 30 de setembro de 2007 1 comentários

Folha de São Paulo, 30.09.2007.

Costume entre muçulmanos e judeus, a circuncisão em recém-nascidos é também feita por orientação médica e divide opiniões de especialistas.De um lado, estão urologistas para os quais cortar o prepúcio nos primeiros dias de vida é uma forma de prevenir doenças futuras, como o câncer de pênis. Do outro, especialistas dizem que não compensa uma cirurgia em que riscos estão envolvidos e que ela só deve ser feita se detectado algum problema como a fimose.O urologista Afiz Sadi, professor da Unifesp, afirma que "a indicação de cirurgia era reprimida no passado", mas que hoje estão comprovados muitos benefícios. Nos EUA, por exemplo, pesquisas mostram que 60% dos homens são circuncidados. Entre os judeus, que fazem a circuncisão no oitavo dia de vida, "praticamente não há casos desse tipo de câncer", diz.A doença é originada principalmente por problemas de higiene, que geralmente se agravam em pessoas com fimose. O prepúcio -pele que envolve a glande- secreta uma substância chamada esmegma, que se aloja na região com restos de urina. Caso não haja limpeza adequada, infecções repetidas podem afetar as células do prepúcio ou da glande, favorecendo o aparecimento do câncer.A doença é mais freqüente em regiões pobres e representa 2% de todos os tipos de câncer em homens no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer.
A circuncisão também protege contra a Aids. Pesquisas feitas na África mostraram que a prática pode reduzir de 50% a 60% a vulnerabilidade ao vírus HIV. Isso fez a ONU (Organização das Nações Unidas) anunciar em março apoio à circuncisão como um meio para prevenir a Aids em países com alto índice de contaminação.Mesmo com a proteção "extra", defensores e críticos da circuncisão concordam que usar preservativo é essencial.A prevenção contra outras doenças como o HPV (papiloma vírus) e câncer de colo de útero na parceira é outra vantagem da circuncisão, segundo o urologista Eric Wroklawski, professor da Faculdade de Medicina do ABC. Ele afirma que o mecanismo de dor no bebê é inibido se ele sugar água com açúcar durante a cirurgia.Segundo ele, "o inconveniente da circuncisão é que pode causar estreitamento da ponta da uretra, pelo contato com a fralda, e que pode ter implicações cirúrgicas se feita por profissional não-habilitado".Para Peter Liquornik, da Sociedade Brasileira de Pediatria, a cirurgia tem benefícios, mas não deve ser praxe, e sim decidida pelos pais. Já o secretário da Sociedade Brasileira de Urologia, Roni Fernandes, diz não haver necessidade de circuncidar todos os bebês. "É para caso de fimose, tem de fazer diagnóstico para indicar cirurgia."Para ele, tendo em vista que o câncer de pênis tem baixa incidência, não compensa o risco de deixar um bebê ser operado por outro profissional que não um urologista preparado. "A prevenção por meio da circuncisão é discutível", diz. Segundo ele, a qualidade de vida influi na prevenção. "Na Suécia, a circuncisão não é costume e a incidência do câncer é baixa".Ele afirma que o custo total de uma circuncisão em um urologista particular varia muito, mas pode chegar a R$ 3.500.

Divergências médicas são absolutamente comuns, mas é inegável que vários benefícios da técnica têm sido comprovados.

ERIC HOBSBAWN, HISTORIADOR: "OS EUA NÃO SE TORNARÃO UM PAÍS FRACO"

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Internautas, vale a pena ler entrevista concedida pelo historiador Eric Hobsbawn à Folha de São Paulo publicada neste domingo, dia 30.09. Abaixo, trecho interessante que fala sobre a supremacia dos EUA.

FOLHA - Mas o sr. acredita que a supremacia norte-americana esteja em vias de se dissolver?HOBSBAWM - A Guerra do Iraque está demonstrando que exercer influência no mundo todo não será possível. Ela está demonstrando que mesmo uma grande concentração de poder militar não pode controlar um Estado relativamente fraco sem certa aprovação ou consenso deste. Defendo no livro que o projeto norte-americano está falindo. O que não significa que os EUA se tornarão um país mais fraco, ou que estejam em declínio ou colapso. Mesmo que percam os seus soldados, continuarão sendo uma nação importante, econômica e politicamente.

A força dos Estados Unidos, comprovada economicamente, politicamente e socialmente em relação às demais nações, é sempre motivo de questionamento. O que Hobsbawn declara acima é que esse poderio pode até sofrer um certo abalo, mas não se tornará fraco, em declínio ou colapso. Isso lembra o próprio poderio do Vaticano (o estado-igreja) que, após o confronto com a força militar napoleonônica, parecia ter sucumbido (sofrido uma ferida mortal), porém que em 1929 voltou a ter força e adquiriu seu espaço fortalecendo-se novamente e tornando-se um império político-religioso. O que o historiador fala é mencionado por autores cristãos como Ellen White como uma evidência bíblica da supremacia norte-americana nos tempos atuais que não perderá sua força. Devemos lembrar que os EUA sempre foram reconhecidos por seu respeito à democracia e às liberdades individuais. Nos últimos anos, esse cenário se transformou de maneira sensível, especialmente após os embates diretos com as ditas redes terroristas islâmicas. Resta saber até quando os princípio de nação democrática e tolerante poderá ainda ser atribuído aos EUA.

PROJETO NA COLÔMBIA PROPÕE MULTA PARA ADÚLTEROS

domingo, 23 de setembro de 2007 1 comentários

BBC Brasil, 23.09.2007.

Um projeto de lei está provocando polêmica na Colômbia ao propor multas de até US$ 4 mil (cerca de R$ 7,5 mil) e pena de prestação de serviços comunitários para cônjuges infiéis.O autor da proposta, o senador Edgar Espíndola, diz que seu objetivo é proteger a família. Sua proposta funcionaria como "uma apólice" para garantir o cumprimento de um dos princípios do matrimônio, o da fidelidade.Mas a possibilidade de o Estado intervir em um assunto íntimo dos casais gerou controvérsia, e muitos chamaram a proposta de penalizar a infidelidade de 'retrógrada'.Você acha que o Estado deve interferir em assuntos pessoais como este?

A aplicação de multas, nesse caso, é mais simbólica do que uma solução para o problema. É óbvio que a saída está no comprometimento com o casamento, o que é algo desprezado pela maioria hoje. Leis apenas apontam a conduta de uma sociedade, mas não têm poder para alterar comportamentos.

ARCEBISPO BRITÂNICO NÃO QUER MAIS BISPOS GAYS NOS EUA

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Agência EFE, 19.09.2007.

O arcebispo de Canterbury e primaz da Igreja Anglicana, o britânico Rowan Williams, pedirá aos bispos episcopais dos Estados Unidos que não escolham mais bispos homossexuais assumidos e nem autorizem o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
O jornal britânico The Guardian antecipa hoje que Williams fará o pedido amanhã em reunião de emergência com bispos norte-americanos em Nova Orleans (EUA) destinada a evitar um perigoso cisma na comunhão anglicana, à qual também pertence a Igreja Episcopal daquele país.
O arcebispo realizará seis horas de reuniões, na quinta e sexta-feira, com seus colegas norte-americanos em um hotel da cidade no estado da Louisiana, dez dias antes do prazo de um ultimato imposto pela comunidade anglicana para que os episcopais dos EUA renunciem à sua atitude tolerante em relação aos homossexuais.
"A situação é muito volátil. Chegou a hora de a Igreja Episcopal nos dizer qual é sua posição e se comprometer sem rodeios com o resto da comunhão", disse ao jornal uma fonte da Igreja Anglicana que participa das negociações. "Os episcopais têm que responder positivamente e sem ambigüidades. Não admitimos mais hesitações. Trata-se de um momento decisivo para toda nossa comunidade", disse a fonte.
A posição da bispa que preside os episcopais norte-americanos, Katharine Jefferts Schori, será decisiva na hora de manter a unidade dos bispos daquele país.
Segundo o The Guardian, um acordo entre os que defendem as diferentes posições poderia satisfazer alguns, mas talvez não fosse suficiente para os arcebispos africanos, contrários à ordenação de homossexuais, ou para seus aliados ingleses e norte-americanos mais conservadores, que não temem uma divisão dentro do anglicanismo.
Um eventual cisma teria conseqüências incalculáveis na comunhão anglicana já que algumas províncias, como o Canadá e talvez as igrejas escocesa e irlandesa, poderiam apoiar os liberais americanos enquanto em outras, como a própria Igreja da Inglaterra, se dividiriam.
Os bispos das 112 dioceses americanas sabem que se expõem a um ostracismo permanente por parte das províncias evangélicas mais conservadoras dos países em desenvolvimento, que são as que mais criticaram a nomeação, há quatro anos, do homossexual Gene Robinson como bispo de New Hampshire (EUA).
O primaz Williams, um teólogo que se pronunciou no passado a favor de uma atitude mais tolerante para com os homossexuais, tem uma posição difícil: os mais conservadores desconfiam dele e os liberais se sentem traídos por ele não apoiá-los abertamente.

VOZES ANACRÔNICAS

terça-feira, 11 de setembro de 2007 0 comentários

Felipe Lemos

Dizem que o programa A Voz do Brasil, da Radiobrás, deve sair do ar porque é anacrônico. Que é resquício do tempo em que o poder governamental impunha sua propaganda ideológica à sociedade, sem permitir a réplica popular. Que atrapalha a programação das emissoras de rádio do Brasil inteiro e que o Governo é inflexível quanto à sua veiculação.
Concordo em parte com isso. Aliás, sou ouvinte da Voz do Brasil. Sim, sou ouvinte nem que seja para ter subsídios para criticar determinados atos governamentais, do Congresso Nacional ou do Judiciário. Nem que seja para concordar com algumas iniciativas. Nem que seja para saber o que os representantes legalmente eleitos por mim, e por todos vocês, estão fazendo ou deixando de fazer.

Mas a voz do Brasil está anacrônica realmente. Sim, a voz nas ruas, nas empresas, nas escolas, nas igrejas, nos bares, no meio rural, na zona urbana, nas mansões e nas choupanas. A voz do Brasil é a sua e a minha voz. Não é proselitismo em favor do Governo, nem poesia nacionalista. Nós formamos a voz do Brasil através de nossos atos, nossas preocupações, nossos desejos e nossas ambições. E essa voz está rouca de tão velha, antiquada, defasada, antiga, ultrapassada. Sim, porque continuo ouvindo a voz dos reclamam da desonestidade dos prefeitos de sua cidade, mas que assim que podem dão um jeito de "passar a perna" no colega de trabalho, no parente, no vizinho, de dizer que não estão devendo aquilo que todos sabem. De pegar o que não é seu.
Ou então consigo escutar a voz cansativa dos que clamam por ações sociais efetivas do poder público (e estão certos), mas nunca pensaram em realizar nada que pudesse diminuir a fome, a miséria e o analfabetismo das pessoas ao seu redor. Sim, dos moradores do bairro ao lado do seu. De quem reside perto da sua casa nos barracos que você finge não enxergar, quando passa a mais de 100 quilômetros por hora na rodovia. Essa voz também está anacrônica.
Dá para ouvir, também, incessante, como se fosse o enfadonho grasnar de uma ave, a voz de muitos que se queixam da falta de igualdade, mas tratam a todos de maneira diferente. Clamam por direitos iguais, mas são promotores da exclusão, da discriminação e do preconceito. Outra voz anacrônica, obsoleta, retrógrada, extemporânea.
É por isso que eu continuarei ouvindo o programa A Voz do Brasil nem que seja para me animar com a possibilidade de fazer algo diferente de tudo ou de parte do que ouço. Nem que seja para descobrir que minha voz pode ser importante para determinada situação ou grupo. Nem que seja para não ouvir as outras vozes anacrônicas que insistem em desafinar e prejudicar meu aparelho auditivo.

MULHER FALA DE FUGA DE SEITA POLÍGAMA APÓS 20 ANOS

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Portal Terra, 11.09.2007.

Sara Hammon, 34 anos, viu algumas de suas irmãs serem tiradas da escola para casar com homens que nem conheciam. Temendo o mesmo destino, ela fugiu de casa na cidade de Colorado, no Estado do Arizona, Estados Unidos, quando tinha ainda 14 anos.
Ela deixou para trás 19 mães, 74 irmãos e irmãs, assim como um pai que ela diz nunca lembrar de seu nome, mesmo tendo molestado-a freqüentemente. Sara, que foi a primeira jovem de 14 anos a abandonar a seita, também deixou para trás uma cultura que acredita ser opressora às mulheres.
Hammon relatou à rede de televisão CNN detalhes de sua vida dentro da seita polígama na qual vivia. Seu líder, Warren Jeffs, está preso na cadeia de Purgatory, no sul do Estado de Utah, e seu julgamento deve começar em 10 de setembro.
Ele está sendo acusado de cumplicidade em estupro, por sua interferência para forçar o casamento entre um de seus primos e uma menina de 14 anos. Além disso, deve enfrentar diversas outras acusações de delitos sexuais no Arizona.
"Provavelmente a pior parte dessa teologia é o tratamento dado à mulher, assim como os ensinamentos de que ela não é igual ao homem. Elas devem ter um marido para conseguir alcançar o mais elevado nível do céu. E não apenas um marido, porque elas devem permitir que ele tenha duas outras mulheres", afirmou.
Hammon nasceu em Hilldale, no Estado de Utah, mas cresceu em Colorado City, onde seguidores dos Jeffs - presidente e profeta da Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (FLDS, sigla em inglês), que pratica a poligamia livremente.

Em discussão, não estão os méritos de uma igreja ou outra, mas o princípio bíblico. Deus nunca aprovou a poligamia e, nos relatos bíblicos, é possível constatar os efeitos desastrosos dessa prática. Jacó acabou assumindo duas esposas e entre elas houve dificuldades motivadas por ciúmes e inveja. O mesmo aconteceu com Elcana, que era casado com duas mulheres, sendo uma delas (Ana) estéril e que se tornou motivo de humilhação. O próprio rei Salomão, filho de Davi, tão conhecido por sua sabedoria, manteve várias mulheres e reconheceu, nas palavras do livro de Eclesiastes, que a vida digna estava em viver apenas com uma mulher. Princípio que ele não teve por muito tempo e que certamente o levou para mais longe dos caminhos de Deus.

Escolas adventistas aparecem entre as melhores do País

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Revista Veja, Semana de 11.09.2007.

O ensino religioso remonta aos primórdios do Brasil colonial. Foram os padres jesuítas, patrocinados pela coroa portuguesa, os fundadores de algumas das primeiras escolas brasileiras no século XVI. A educação, no Brasil de então, se prestava basicamente a disseminar o catolicismo e arrebanhar fiéis. Nos séculos seguintes, outras ordens religiosas vieram movidas pelo mesmo propósito: elas esparramaram tantas escolas pelo país que, juntas, chegaram a concentrar 80% das matrículas do ensino médio nos colégios particulares, como revela um censo do início do século XX. Reinaram sem concorrência na elite do ensino até a década de 60, quando uma leva de escolas privadas começou a lhes roubar espaço, e elas tiveram de se reformular pela primeira vez para sobreviver aos novos tempos. Foi aí que os colégios confessionais se aproximaram dos laicos, ao se tornar menos doutrinários e desobrigar os estudantes de velhos hábitos, como ir à missa ou comungar. A segunda mudança nessas escolas é recente, e está sendo impulsionada por outro fenômeno de mercado: o surgimento de grupos privados de ensino, mais profissionais na gestão e tão ou mais eficientes nos resultados acadêmicos. Resume o especialista Claudio de Moura Castro: "Ninguém mais matricula o filho numa escola só porque ela ensina religião, como ocorria antes, mas, sim, por oferecer um conjunto de bons serviços".
É justamente nesse quesito que muitas das escolas confessionais têm falhado, segundo mostra uma nova pesquisa sobre o assunto. De acordo com os dados do Ministério da Educação (MEC), as matrículas nos colégios católicos chegaram a cair 20% ao longo da última década. Estabilizaram-se, mas hoje não saem do lugar. O trabalho revela que, no mesmo período, crescia a um ritmo surpreendente um outro tipo de escola religiosa: os colégios comandados pelos adventistas, egressos de um ramo protestante dos mais tradicionais da igreja evangélica. O fato chamou a atenção dos especialistas. Já são 318 dessas escolas no país, com 37% mais alunos do que dez anos atrás. Elas sobressaem em meio a milhares de outras não só porque proliferam rapidamente, mas também por seu bom nível acadêmico, aferido por medidores objetivos: algumas das escolas adventistas já aparecem entre as melhores do país nos rankings de ensino do MEC.

Jesuítas catequizam índios no Brasil colonial: predomínio do ensino religioso
Os especialistas são unânimes em afirmar que um dos fatores que impulsionam essas e as outras escolas religiosas que dão certo no Brasil são valores que os pais acreditam ver nelas reunidos. É algo difícil de mensurar, mas foi bem mapeado por uma nova pesquisa que ouviu 15 000 pais de estudantes brasileiros de colégios religiosos. Ao justificarem sua escolha por uma escola confessional, eles foram específicos: acham que esses colégios são mais capazes de difundir valores "éticos", "morais" e "cristãos" (mesmo que eles próprios não sejam seguidores de nenhum credo). Um exemplo concreto do que agrada aos familiares, no caso das escolas adventistas: o incentivo local ao convívio das crianças com a natureza. Em vários dos colégios, cachorros transitam livremente pelas salas de aula e, num deles, o contato estende-se ao Pequeno Éden, um pátio por onde perambulam pôneis e galinhas. Em Embu das Artes, cidade de São Paulo onde fica a escola que sedia o tal "Éden", a diretora explica que a idéia é reproduzir o "clima do paraíso". O que também agrada a pais de todos os credos são as regras conservadoras ali aplicadas, entre elas a proibição de brincos e colares, para as meninas, e cabelo comprido, para os meninos. "Quero minha filha num ambiente onde se cultivem a disciplina e os bons hábitos", resume a secretária Vanda Balestra, mãe de Ludmila, de 16 anos. A jovem é católica e compõe o grupo dos 70% de estudantes matriculados em escolas adventistas que não seguem a religião.

Em sala de aula, onde se acompanha o currículo do MEC, são basicamente dois os momentos em que essas escolas se diferenciam das demais. O primeiro é nas classes de religião, muitas vezes diárias, durante as quais são entoados, com vigor fora do comum, cantos bíblicos como "A Bíblia é palavra de vida / Um canto de amor que Deus escreveu para mim" e crianças de 4 anos, como a pequena Larissa Conrado, manuseiam a versão infantil do Velho Testamento. Outra diferença aparece nas aulas de ciências, nas quais os estudantes são apresentados, sem nenhuma espécie de visão crítica, à explicação criacionista do mundo, segundo a qual homens e animais foram criados por Deus, tal como está na Bíblia. Esse, sim, é um evidente atraso. Historicamente, o criacionismo vigorou no meio acadêmico até o século XIX, quando foi superado pela teoria da evolução de Charles Darwin, que pela primeira vez esclareceu a origem dos seres vivos com base em evidências científicas. Em escolas de estados mais conservadores nos Estados Unidos, ainda hoje o criacionismo predomina – e Darwin é banido do currículo. No caso dos colégios adventistas brasileiros, as crianças aprendem as duas versões. A diretora de uma das escolas, Ivany Queiroga da Silva, explica como a coisa funciona: "Deixamos claro nosso ponto de vista, criacionista, mas damos a chance de os alunos conhecerem os dois lados". Por quê? "Respeitamos todos os nossos clientes. Além disso, eles precisam conhecer Darwin para passar no vestibular."

Esse pragmatismo dos adventistas é outro fator que ajuda a explicar o sucesso de suas escolas. Enquanto muitos dos colégios católicos ainda são administrados de modo mais antiquado, tal qual um século atrás, os adventistas implantaram um novo conjunto de medidas para profissionalizar a gestão. Do primeiro colégio, inaugurado em 1896 na cidade de Curitiba, foi-se das aulas dadas por pastores no quintal da igreja às atuais unidades, nas quais diretores freqüentam cursos superiores de administração escolar e os melhores professores recebem bônus no salário. Reconhecidos pelo mérito, eles rendem mais em sala de aula – algo básico, mas ainda raro no Brasil. Para traçarem seu plano de expansão, os adventistas, que já são donos de seis universidades e uma editora de livros didáticos, também não hesitaram ao contratar consultores para definir "as demandas do mercado". Foi decisivo para saber onde abrir novas unidades. Em 2008, eles pretendem inaugurar uma universidade e mais vinte escolas. Conclui o professor Orlando Mário Ritter, um dos diretores da rede adventista: "Para nós, encarar a educação como negócio não é sacrilégio. Estamos, afinal, no século XXI". Falta ainda a essas escolas, no entanto, entender que o criacionismo foi superado pela ciência há mais de um século.
É gratificante constatar que uma publicação de influência nacional, como a Revista Veja, produza reportagem que reconhece a relevância da educação adventista para a sociedade. É a evidência de que as ações efetivas em prol da sociedade, realizadas por denominações religiosas, como a Igreja Adventista do Sétimo Dia, são importantes e recebem o devido crédito. Em destaque não está apenas uma instituição centenária, mas o cumprimento de uma missão religiosa. Educar jovens com princípios éticos, morais e religiosos é a proposta da educação adventista e essa reportagem vem exatamente nesse sentido. Pena que o preconceito contra o criacionismo perdura, mas a reportagem é interessante sob o ponto de vida da Igreja a serviço da sociedade.

Professor de Teologia discute tese de ateísmo

domingo, 2 de setembro de 2007 0 comentários


Entrevista concedida à Agência Brasileira de Jornalismo do Unasp.
Por Wendel Lima.

No último dia 12/08, o jornal O Estado de São Paulo publicou uma entrevista com um dos críticos mais ferozes da religião. O renomado cientista britânico Richard Dawkins, considerado em 2005 pela revista Prospect como o terceiro maior intelectual da atualidade, soma em seu currículo prestígio acadêmico com o editorial. É professor de Compreensão Pública da Ciência na centenária universidade de Oxford e autor de vários best-sellers, como o último traduzido para o português: Deus, um delírio. Dawkins parece ter deixado a argumentação puramente científica há algum tempo, e ter escorregado para o campo da subjetividade da sua visão de mundo. Talvez seu sucesso midiático seja melhor explicado pela credibilidade dos seus títulos, do que pela originalidade de suas críticas. Os ataques que ele desfere contra a fé não são originais. Ressuscitam vários temas recorrentes, como uma explicação para o sofrimento humano, o histórico alienador e intolerante de algumas religiões, além da impossibilidade de se “provar” o sobrenatural. Para responder aos questionamentos de Dawkins, ouvimos um acadêmico que também é religioso. O professor Adolfo Semo Suárez, boliviano de nascimento, mas brasileiro por opção, está concluindo o seu doutorado em Ciências da Religião na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Ele também é graduado em pedagogia e teologia e atualmente é professor de ensino religioso para os cursos do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). Nessa entrevista, Suárez fala sobre as grandes contribuições do cristianismo para a humanidade, procura responder às principais críticas feitas à fé cristã e mostra porque religião e razão não são excludentes.
1) Em suas respostas, Dawkins dá a entender que vê a fé como diametralmente oposta à razão. Ele diz que sua aversão à religião está baseada em evidências, ao contrário dos religiosos que se fundamentam apenas num livro sagrado. Fé e razão são excludentes?
Alguns leigos e teólogos afirmam que a fé não depende em absoluto da razão. Eles seguem nisso a famosa pergunta de Tertuliano: “Que tem Atenas a ver com Jerusalém?”. Esta dicotomia revela certa confusão. “Atenas” representa aqui a filosofia humana especulativa, em que se acha ausente ou se nega a possibilidade de uma revelação especial de Deus (tal como apresentada na Bíblia). Todavia, se a filosofia adotada tem espaço para a revelação especial, então não vejo nenhum problema na aceitação do binômio fé e razão.
Mas, o que é a razão? A razão é a atividade mental empregada na busca da verdade, e nenhum sistema filosófico se recusa a valer-se dela. O homem pode pensar sem fazer uso da razão, e os que afirmam que esta não desempenha um papel destacado na fé religiosa, mostram ser muito ingênuos. Aqueles que discordam da importância da razão para as coisas espirituais e religiosas, se esquecem que o seu próprio poder de argumentação só é possível porque usam a razão.
Podemos então afirmar sem medo que a fé está baseada necessariamente no intelecto. A maior parte das pessoas não crê em uma coisa a menos que tenha sentido. E como buscam a verdade na religião, esperam que lhe seja explicada de forma inteligente e clara. Apesar de a fé incluir a aceitação de declarações proposicionais que não podem ser “demonstradas” pela razão ou empiricamente, também inclui decidir e agir segundo ditas proposições intelectuais. Afinal, a religião é mais do que uma atividade para alcançar paz de mente, um propósito de vida e felicidade. Certamente obtemos tudo isso, mas há algo mais. Nós cremos que a verdadeira religião deve estar arraigada à realidade, que ela deve fazer afirmações verdadeiras sobre a realidade. Daí que a fé precisa estar ligada à razão a fim de alcançar a vida como um todo.
Por sua vez, a razão e o conhecimento científico têm suas limitações metodológicas e conceituais. Os grandes temas da existência humana não obtêm resposta apropriada por parte do puro racionalismo e conhecimento científico. Pois ainda que o conhecimento científico seja o mais cultuado e valorizado na atualidade, não trata, apropriadamente, das questões que mais inquietam as pessoas: sua origem e destino.
2) O professor de Oxford não acredita que a crença religiosa seja uma necessidade natural e indispensável ao ser humano. Apesar de todas as culturas apresentarem alguma manifestação religiosa, das mais remotas às mais desenvolvidas, ele vê a religião como um elemento de contribuição para o processo de evolução da humanidade, que aos poucos será abandonado. O senhor concorda?
Se alguém parte do pressuposto que a crença religiosa é dispensável, todo seu arcabouço ideológico será pautado por esse pensamento. Todavia, a própria cultura humana contraria esse argumento. É curioso notar, por exemplo, que mesmo numa época de tanto racionalismo, as pessoas não abandonam suas crenças religiosas. O historiador britânico Philip Jenkins aponta que nas próximas décadas teremos uma sociedade cada vez mais cristianizada nos moldes “tradicionais” e “conservadores”.
Fiodor Dostoievski afirmava, com propriedade, que uma grande prova de nossa carência de Deus reside no fato de que, mesmo com tantas tragédias e questionamentos, a humanidade nunca pára de manifestar uma busca pelo divino. Portanto, o abandono da religião é contrariado pelas pesquisas e pela cultura em geral. Uma prova disso é que até os que “não crêem” manifestam crença em algo “além da razão”. Como diz o cientista da religião Jung Mo Sung, quando seres humanos propõem um sentido da vida que vai além da vida mesma, eles estão, na verdade, criando ídolos – criações humanas elevadas à categoria de absoluto.
Além disso, o psicólogo Victor Frankl entendia que a busca de um sentido para a vida e todo o vazio interior que vez por outra nós sentimos são, nada menos, que o reflexo de uma carência de Deus, que manifestamos em atos cotidianos. E percebe-se que essa carência tem aumentado no decorrer da história. Ainda, por ironia, vemos comunidades daqueles que não crêem, numa espécie de “religião dos sem religião”.
3) Talvez por ironia, o cristianismo produziu seus maiores críticos. Vemos por exemplo, que Nietzche, Marx e Freud vieram de famílias religiosas. O que explica essa aversão e, no caso de alguns, até ativismo contra a fé?
Isso mostra que existe a religião saudável e a religião alienante. Não vamos também afirmar com ingenuidade que todas as propostas e crenças religiosas são boas, porque isso não é verdade. Quanto aos maiores críticos da religião terem sido um dia “religiosos”, posso afirmar que essa mudança pode ser resultado de traumas criados por uma crença religiosa alienante e repressiva, ou “geradora” de conflitos pessoais.
No caso de Freud, seus conflitos familiares – analisados profundamente por Ana-María Rizutto em sua obra Por que Freud rejeitou Deus? – quase como que o “empurraram” a uma vida de descrença: sua negação da figura frágil de seu pai, sua experiência de abandono por parte de sua babá, numa fase importante da vida dele, etc. Vemos, então, que o desapontamento ou a desilusão realmente pode produzir críticos ferrenhos, e isso não vale apenas para a religião.
4) A negação da existência de Deus (ateísmo) e a atitude de incerteza diante da existência de uma divindade (agnosticismo), também não seriam formas de crença religiosa?
Não creio que seja necessariamente uma forma de “crença religiosa” nos moldes do cristianismo. Mas, no mínimo, é uma maneira de entender que a preocupação com o Transcendente não conhece fronteiras ideológicas. É mais ou menos nessa linha que trabalham Umberto Eco e Carlo Maria Martino em sua obra Em que crêem os que não crêem?. O livro A espiritualidade para céticos, do filósofo Roberto Solomon, também aponta indícios da necessidade da “Verdade cósmica” para qualquer pessoa, incluindo ateus e céticos. Outras publicações recentes, como A linguagem de Deus (Dr. Francis Collins) e A religião do cérebro (Dr. Raul Marino Jr.) mostram igualmente que a compressão da fé e a “certeza” do Transcendente estão presentes na vida de milhares de cientistas sérios. Esses pesquisadores negaram Deus durante grande parte de sua vida, mas tiveram que reconhecer que a vida só é completa quando vivemos de maneira total, holística, o que significa dar o espaço devido às crenças religiosas.
A entrevista completa pode ser acessada na coluna "Arqueologia e Ciência", publicada no site Paraná On Line - http://www.paranaonline.com.br/. Basta se cadastrar para ter acesso ao conteúdo.

 
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