Portal Terra, 09.12.2012. Para Orlando Casares, arqueólogo do Instituto Nacional de Antropologia e História do México (INAH), o "fim do mundo" é resultado de um erro histórico de interpretação. Casares que foi curador de uma mostra que tentava mostrar o erro, diz em entrevista de 2011 que os maias não tinham uma concepção de fim do mundo, mas sim de ciclos.
Casares explica o complicado funcionamento do calendário maia - que contava, inclusive, dois anos. Para o especialista, o problema não esta na arqueologia, mas em erros, "propositais ou não", de interpretação de objetos achados.
O prognóstico maia do fim do mundo foi um erro histórico de interpretação, segundo revela o conteúdo da exposição. O arqueólogo explicou que a base da medição do tempo desta antiga cultura era a observação dos astros.
Eles se baseavam, por exemplo, nos movimentos cíclicos do sol, da lua e de Vênus, e assim mediam suas eras, que tinham um princípio e um final. "Para os maias não existia a concepção do fim do mundo, por sua visão cíclica", explicou Casares, que esclareceu: "A era conta com 5.125 dias, quando esta acaba, começa outra nova, o que não significa que irão acontecer catástrofes; só os fatos cotidianos, que podem ser bons ou maus, voltam a se repetir".
Para não deixar dúvidas, a exposição do Museu do Ouro explica o elaborado sistema de medição temporal desta civilização. "Um ano dos maias se dividia em duas partes: um calendário chamado ''Haab'' que falava das atividades cotidianas, agricultura, práticas cerimoniais e domésticas, de 365 dias; e outro menor, o ''Tzolkin'', de 260 dias, que regia a vida ritualística", acrescentou Casares.
A mistura de ambos os calendários permitia que os cidadãos se organizassem. Desta forma, por exemplo, o agricultor podia semear, mas sabia que tinha que preparar outras festividades de suas deidades, ou seja, "não podiam separar o religioso do cotidiano".
Ambos os calendários formavam a Roda Calendárica, cujo ciclo era de 52 anos, ou seja, o tempo que os dois demoravam a coincidir no mesmo dia.
Para calcular períodos maiores utilizavam a Conta Longa, dividida em várias unidades de tempo, das quais a mais importante é o "baktun" (período de 144 mil dias); na maioria das cidades 13 "baktunes" constituíam uma era e, segundo seus cálculos, em 22 de dezembro de 2012 termina a presente.
Com esta explicação querem demonstrar que o rebuliço espalhado pelo mundo sobre a previsão dos maias não está baseado em descobertas arqueológicas, mas em erros, "propositais ou não", de interpretação dos objetos achados desta civilização.
De fato, uma das peças-chave da mostra é o hieróglifo 6 de Tortuguero, que faz referência ao fim da quinta era, a atual, neste dezembro, a qual se refere à vinda de Bolon Yocte (deidade maia), mas a imagem está deteriorada e não se sabe com que intenção.
A mostra exibida em Bogotá apresenta 96 peças vindas do Museu Regional Palácio Cantão de Mérida (México), onde se pode ver, além de calendários, vestimentas cerimoniais, animais do zodíaco e explicações sobre a escritura.
Para a diretora do Museu do Ouro de Bogotá, Maria Alicia Uribe, a exibição desta mostra sobre a civilização maia serve para comparar e aprender sobre a vida pré-colombiana no continente. "Interessa-nos de alguma maneira comparar nosso passado com o de outras regiões do mundo", ressaltou Maria sobre esta importante coleção de arte e documentário.
Meu comentário - Interessante que o especialista fala em erros propositais ou não para criar essa atmosfera de fim de mundo. Eu creio que intencionalmente há motivos para se propagar a ideia de o mundo acabar em 2012, por mais absurda que seja para muitos. Meu raciocínio é o seguinte:
- Interessa a grupos místicos, que não baseiam suas crenças nem na história e nem no relato bíblico, fortalecer a ideia de um fim do mundo próximo, especialmente nesse ano, para angariar seguidores de última hora e se firmar no cenário midiático ganhando notoriedade ainda que por algum tempo.
- Interessa a profissionais dedicados a utilizar conceitos fatalistas para vender cada vez mais. Não a venda de um produto específico, mas, ao estabelecer um ambiente de fim do mundo, conseguem chamar a atenção das pessoas para peças publicitárias sensacionalistas e que obviamente vão despertar a atenção de muita gente. E isso pode resultar em maiores vendas de determinadas ofertas oportunistas.
A Bíblia, regra de fé para grande parte dos cristãos (os que não a relativizam, pelo menos), declara firmemente que o fim desse mundo que conhecemos está associado ao retorno de Jesus Cristo (textos claros são I Tessalonicenses 4:13-16, entre outros). A tônica dos textos bíblicos é a preparação em torno da esperança da volta de Jesus. E não de uma vida com temor ou curiosidade em torno de acontecimentos catastróficos que simplesmente colocarão fim ao estado de coisas que hoje vemos sem quaisquer perspectivas melhores no futuro.O temor e a curiosidade, que também são criado por esse clima fatalista em torno de uma interpretação errônea do calendário maia, servem a outros interesses (mercantilistas, místicos ou eminentemente especulativos com fins de promoção do sensacionalismo barato menosprezando a religiosidade em geral), mas não aos que a Bíblia se propõe.