Falei hoje na Rádio Novo Tempo (www.novotempo.com/radio) sobre as implicações do documento produzido recentemente pelo Vaticano sobre a crise econômica e global. O documento se chama Nota do Pontifício Conselho Justiça e Paz - Para uma reforma do sistema financeiro e monetário internacional
na perspectiva de uma autoridade pública de competência universal.
na perspectiva de uma autoridade pública de competência universal.
Documento original publicado em:
Esse Conselho é um órgão da Cúria Romana responsável por ações de promoção da justiça e da paz presidido atualmente por um bispo de Gana chamado Peter Turkson.
1. Para o Vaticano, a origem do problema é o liberalismo econômico sem regras e incontrolado que conduz à desigualdade social. Se relacionarmos com outros documentos anteriormente promulgados a respeito de questões morais, é possível entender que, na ótica da Santa Sé, o problema da "bolha econômica" que deu origem à crise que hoje assola os países europeus é fruto da exploração do capital especulativo e, em última instância, do liberalismo econômico desregrado.
Engraçado é que o Vaticano, através de seus bancos, também participa desse tipo de capital especulativo. Quem quiser entender melhor como o Vaticano age administrativa e sob a ótica geopolítica mundial, sugiro a leitura da obra O Poder e a glória, do jornalista inglês David Yallop.
Abaixo, a citação do documento que reforça o que estou dizendo:
"Antes de tudo, um liberalismo económico sem regras e incontrolado. Trata-se de uma ideologia, de uma forma de «apriorismo económico», que pretende tirar da teoria as leis de funcionamento do mercado e as chamadas leis do desenvolvimento capitalista, exasperando alguns dos seus aspectos. Uma ideologia económica que estabeleça a priori as leis de funcionamento do mercado e do desenvolvimento económico, sem se confrontar com a realidade, corre o risco de se tornar um instrumento subordinado aos interesses dos países que gozam efectivamente de uma posição de vantagem económica e financeira".
2. O Vaticano entende que é preciso estabelecer uma Autoridade Política Mundial. O termo é significativo, porque faz alusão à necessidade de uma espécie de organismo/entidade/instituição que tome para si a responsabilidade de organizar-se acima dos poderes terrenos, governamentais. É fundamental compreender que a solução, conforme o documento, não está em Deus, como se poderia deduzir partindo de uma organização religiosa, mas nessa Autoridade Política Mundial. E não é difícil concluir que, pelas características apresentadas, somente o próprio Vaticano se encaixa nesse perfil. Ou seja, aí nesse ponto legislam em causa própria.
3. O documento declara, no final, que a autoridade mundial é o único horizonte que pode fazer frente a toda essa dificuldade relacionada à crise econômica global. Ou seja, apesar de a Bíblia declarar que a volta de Cristo Jesus (inclusive bem declarado isso em profecias históricas como as da estátua de Nabucodonosor, com registro em Daniel capítulo 2, o Vaticano assegura que a saída definitiva está nesse modelo de autoridade política mundial.
"Num mundo em vias de rápida globalização, a referência a uma Autoridade mundial torna-se o único horizonte compatível com as novas realidades do nosso tempo e com as necessidades da espécie humana. Mas não se deve esquecer, contudo, que esta passagem, considerando a natureza ferida dos homens, não se realiza sem angústias e sem sofrimentos".