Papa relativiza método histórico-científico de interpretação da Bíblia

quarta-feira, 28 de outubro de 2009 0 comentários

Agência Zenit, 26.10.2009.

O método histórico-crítico de pesquisa da Escritura é legítimo e necessário, mas deve ser interpretado segundo sua chave, que é a fé da Igreja, considera Bento XVI.

"Se a exegese pretende ser também teologia, deve reconhecer que, sem a fé da Igreja, a Bíblia permanece como um livro selado: a Tradição não fecha o acesso à Escritura, e sim o abre."

Assim explicou o Bispo de Roma nesta segunda-feira aos professores e alunos do Pontifício Instituto Bíblico, instituição fundada em 1909 por São Pio X, dirigida pela Companhia de Jesus, ao recebê-los hoje no Vaticano por ocasião das celebrações do centenário.

O Papa aludiu ao longo debate sobre o método histórico-crítico de pesquisa da Escritura, que pretende investigar o significado dos textos bíblicos através do contexto histórico e da mentalidade da época, aplicando as ciências modernas.

Bento XVI explicou que o Concílio Vaticano II já esclareceu, na constituição dogmática Dei Verbum, "a legitimidade e a necessidade do método histórico-crítico", que "conduziria a três elementos essenciais: a atenção aos gêneros literários, o estudo do contexto histórico e o exame do que se costuma chamar de Sitz im Leben".

Ao mesmo tempo, "o documento conciliar mantém firme ao mesmo tempo o caráter teológico da exegese, indicando os pontos de força do método teológico na interpretação do texto".

"O fundamento sobre o qual repousa a compreensão teológica da Bíblia é a unidade da Escritura", o que implica na "compreensão dos textos individuais a partir do conjunto", explicou o Papa.

"Sendo a Escritura uma só coisa a partir do único povo de Deus, que foi seu portador através da história, em consequência, ler a Escritura como unidade significa lê-la a partir da Igreja como do seu lugar vital e considerar a fé da Igreja como a verdadeira chave de interpretação", acrescentou.

Recordou também que quem tem "a palavra decisiva" na interpretação da Escritura é "a Igreja, em seus organismos institucionais".

"É a Igreja, de fato, a quem se confiou o ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita e transmitida, exercendo sua autoridade no nome de Jesus Cristo", afirmou.

Nota: Não sou teólogo, mas um pesquisador da Bíblia Sagrada, da história antiga e contemporânea, arqueologia, etc. Mas, como grifei em itálico, estas são duas frases que me chamam a atenção nesta reportagem da Agência Zenit. De acordo com o texto acima, a palavra decisiva na interpretação da Bíblia é a da Igreja (entendam que aqui se refere à Igreja Católica Apostólica Romana), ou seja, qualquer interpretação de outra denominação pode ser contestada e não tem valor. Esta é exatamente a visão medieval consoante a história europeia, quando a população em geral não tinha acesso à Bíblia e, sim, apenas o clero (ou seja, os sacerdotes católicos). Consequentemente, algumas tradições não amparadas pelos escritos bíblicos foram definidas como sinal da cruz, oração pelos mortos, etc. Sendo assim, não podemos concluir que o método histórico-crítico é aceito pelo Vaticano. Pode até ser dito que é aceito, mas com essa incrível reserva de que, em última instância, o que vai prevalecer será a palavra da "Igreja" acerca da interpretação.
Por outro lado, indo à Bíblia mesmo, ou seja, nos remetendo à fonte da inspiração divina, há algo interessante sobre esse assunto. Em uma conversa com os líderes judeus dos primeiros séculos, Jesus, conforme Mateus capítulo 15, reprovou a preferência pela tradição em lugar da Palavra revelada. Diz Cristo, no versículo 6, que "invalidastes a Palavra de Deus, por causa da vossa tradição". Fica para todos nós a análise disso.

Papa abre as portas para os anglicanos

sábado, 24 de outubro de 2009 0 comentários

Veja On-Line, 24.10.2009.

Na terça-feira passada, Bento XVI ofereceu condições especialíssimas para atrair os anglicanos descontentes para o catolicismo. Comunidades, paróquias e até dioceses anglicanas podem se converter sem que seja preciso sacrificar suas tradições. Até padres casados serão tolerados,

A história da Igreja da Inglaterra pode ser sintetizada em dois momentos de ruptura. A primeira foi o seu estabelecimento como igreja independente, no século XVI. A segunda foi a reforma que permitiu a ordenação de mulheres, em 1992. Desde a mudança, reina a cizânia entre os 80 milhões de anglicanos. A nomeação de um bispo gay pela Igreja Episcopal, o braço americano da confissão, em 2003, foi a gota d’água. Muitos tradicionalistas foram, sem alarde, "nadar no rio Tibre", como os anglicanos desdenhosamente chamam a conversão ao catolicismo. A maioria, contudo, hesitava em dar esse passo por medo de perder sua liturgia e tradição.

A exceção oferecida em decreto papal é similar à concedida às igrejas católicas orientais. Sua hierarquia reconhece a autoridade do papa, mas segue seus próprios ritos. O arcebispo de Cantuária, Rowan Willians, chefe da Igreja da Inglaterra, declarou-se "chocado" com a oferta da Santa Sé. Mas é sobre ele que cai o furor dos fiéis. Como líder da ala liberal da Igreja, ele é um dos responsáveis pela cisma. O racha atual entre os anglicanos é tão profundo que foram nomearam dois bispos cuja única função é a de mediar conflitos entre liberais e tradicionalistas.

Na Inglaterra, a oposição ao papa é uma questão de estado. Os membros da família real sequer podem casar com católicos sem perder o direito ao trono. Tudo isso tem raízes profundas. O rompimento com Roma ocorreu no reinado de Henrique VIII depois que o papa Clemente VII recusou-se a anular seu casamento com Catarina de Aragão. Depois de rejeitar a autoridade papal, o rei pôde se casar com seu grande amor, Ana Bolena, que mais tarde ele mandaria decapitar.

No princípio as mudanças foram pequenas, pois Henrique VIII pretendia que a Igreja da Inglaterra continuasse católica, ainda que separada de Roma. Mais tarde, a igreja aderiu à reforma protestante e o país passou por períodos sangrentos, com perseguições religiosas até que o predomínio protestante ficasse bem assentado. O retorno dos anglicanos ao seio da Igreja Católica tem o sabor de uma vitória tardia sobre a reforma protestante.

Nota: O que está por trás desta ação do Vaticano, já que a ruptura com os anglicanos é antiga? Certamente não é uma questão de princípios bíblicos e nem de dogmas exclusivamente católicos, porque conforme a, própria reportagem, as tradições anglicanas poderão ser mantidos e até padres casados serão aceitos. O que me chama a atenção é que realmente esta unificação em torno do Vaticano não passa por ensinamentos da Bíblia Sagrada, ou seja, não é uma união em torno dos ideais deixados por Deus em Sua Palavra. É a constituição de um grupo mais forte politicamente a fim de tornar mais abrangente e significativa a atuação do Vaticano junto a governos onde sua atuação tem sido mais fraca. Isso me lembra o antigo Israel, na época dos reis de Judá e Jerusalém, quando Deus pedi que a única aliança fosse feita com Ele e não com homens a fim de se aumentar o poderio militar, político, territorial. Mas não parece ser o foco mais em relação às grandes religiões cristãs hoje.

Lei de mídia na Argentina privilegia Igreja Católica

quarta-feira, 14 de outubro de 2009 1 comentários

Jornal O Estado de S.Paulo, 14.10.2009.

A lei de radiodifusão, proposta pela presidente Cristina Kirchner e aprovada no sábado pelo Senado da Argentina, está causando irritação entre evangélicos e outros grupos religiosos. O pivô da insatisfação é o Artigo 37 da lei, que determina que a Igreja Católica será a única entidade religiosa a ter direito a licenças de TV e rádio sem necessidade de autorizações prévias ou licitações.


O Conselho Nacional Cristão Evangélico (CNCE) anunciou ontem que tinha recorrido à Justiça, pois a lei provoca "uma dolorosa e inexplicável discriminação religiosa". "(A lei) não possui sustentação constitucional e está em oposição aos tratados de direitos humanos assinados pela Argentina", afirmou o CNCE em nota. O Conselho sustenta que a nova legislação "faz de nossas comunidades e seus membros cidadãos segunda categoria".

Apesar de privilegiar a Igreja Católica, o ex-presidente Néstor Kirchner e sua mulher, Cristina, não possuem boas relações com o Vaticano. O papa Bento XVI criticou, poucos meses atrás, o crescimento da pobreza na Argentina, e o clero em Buenos Aires é crítico da política econômica do governo Kirchner.

Segundo analistas políticos, com o privilégio concedido aos católicos, os Kirchners pretendem reduzir a tensão com o Vaticano, com quem estiveram em permanente confronto desde 2003. Desde sua posse, em dezembro de 2007, a presidente Cristina tenta conseguir, sem sucesso, uma audiência com Bento XVI. Durante os recentes debates entre governo e oposição que antecederam a aprovação da lei de mídia, o clero argentino optou por não se posicionar.

Nota: Lei que visivelmente coloca em xeque a liberdade de expressão religiosa. Possivelmente seja uma manobra política do governo argentino para melhorar sua relação com o Vaticano. Prova de que estado e igreja, nesse caso, querem andar juntos por puros interesses.

Rua em São Paulo se especializa para atender evangélicos

domingo, 11 de outubro de 2009 0 comentários

Revista Veja, Semana de 11 de outubro de 2009.

Ruas especializadas são características da cidade de São Paulo. Há uma rua das noivas, uma de madeiras, outra de motores, a dos eletrônicos, a dos lustres, a dos joalheiros, a dos instrumentos musicais e, agora, como sinal dos tempos, a dos evangélicos, ironicamente localizada às costas da Catedral da Sé. Em pouco mais de duas quadras, há galerias, lojas e camelôs vendendo artigos de que fiéis e pastores possam precisar – desde bíblias até envelopes para a coleta do dízimo. Pode-se encontrar ali o mobiliário necessário para montar um templo. Esse é, por sinal, um, digamos, segmento de mercado em ampla expansão, com a abertura de 10 000 templos evangélicos por ano.

Durante a semana, o maior movimento na rua é de lojistas de todo o país em busca de mercadorias. No sábado é a vez do comprador individual. "Vim com a família comprar peças de vestuário para o novo grupo de jovens da igreja", diz o paulistano Valteci Figueiredo dos Santos, que não resistiu à pechincha de três gravatas por 10 reais. O burburinho na Conde de Sarzedas é similar ao das vias de comércio popular das proximidades. A peculiaridade é que nela os camelôs e as barraquinhas de comida dividem as calçadas com pregadores e cantores gospel. Naturalmente, os ambulantes vendem produtos pirateados, só que autenticamente evangélicos. Por enquanto, o negócio é próspero para todos. "A pirataria ainda não conseguiu nos incomodar", diz Renato Fleischner, editor-chefe da Editora Mundo Cristão, com estimativa de venda de 1,5 milhão de livros neste ano.

Na década de 90, as variadas denominações evangélicas se multiplicaram no Brasil. O número de fiéis cresceu quatro vezes acima da média da população brasileira. Ao contrário da maioria católica, discreta no que diz respeito a compras ligadas à religião, os evangélicos se revelaram consumidores vorazes. O mercado de produtos específicos para eles é estimado em 1 bilhão de reais, o dobro de quatro anos atrás. O apetite consumista se deve bastante aos pentecostais (confissões mais antigas e severas em questões de vestuário e comportamento), como a Assembleia de Deus, com 15 milhões de fiéis, e aos neopentecostais (mais recentes e liberais em relação ao comportamento do fiel), como a Universal do Reino de Deus, com 8 milhões de seguidores.

Sete anos atrás, a primeira edição da ExpoCristã, a maior feira de negócios evangélicos da América Latina, em São Paulo, reuniu 58 expositores e recebeu 4 500 visitantes. Neste ano, o número de expositores chegou a 315 e o de visitantes passou dos 150 000. Há também versões mais modestas montadas em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Estima-se que três de cada dez CDs vendidos no país sejam de música gospel. Um dos discos de Aline Barros, a mais popular cantora evangélica, vendeu mais de 3 milhões de CDs e DVDs. Nas prateleiras da Ebenezer, a maior loja da rua, pode-se escolher qualquer gênero musical – pagode, rap, heavy metal, todos devidamente evangélicos.

Na Brother Simion, é difícil conciliar a imagem tradicional da religião com as jaquetas de couro, correntes de metal e bolsas de padrão oncinha do estilo roqueiro. Quem entra é recebido por uma vendedora de cabelos vermelhos. "Boa tarde, irmã, olha que linda essa mochila que acabou de chegar", diz Juliana Cristina Melo, 20 anos, na loja há sete meses. Ela é uma vendedora elétrica, atenta a cada freguês que entra. "Foi Jesus quem me deu o dom da comunicação fácil", explica Juliana. Ela divide o atendimento com o dono da loja, Brother Simion. Cinquentão, com uma carreira de sucesso no rock gospel nacional, ele gosta de contar seu momento de "iluminação". "Fui morar na Holanda e me envolvi com drogas", relata. "Então conheci Jesus e voltei meu rock para a música gospel. Hoje, minha missão é ‘descaretizar’ a religião."

Pelo menos uma dezena de pregadores tenta ao mesmo tempo atrair novos fiéis e vender alguma coisa na Conde de Sarzedas. Alguns pregam aos gritos, outros tocam música com caixas de som em alto volume. Israel Dias, 38 anos, é cantor gospel há quatro e disputa todos os dias um espaço na rua para propagandear seus dois CDs – ambos de produção independente. Ele sai de Santo Amaro, no sul da cidade, às 8 da manhã e caça fregueses na rua por cinco a seis horas. No meio do dia faz uma pausa para se perfumar e arrumar o terno impecável. "É isso que cativa os clientes", diz Israel, que fatura de 150 a 200 reais por dia. Dá uma boa renda mensal. Deus seja louvado!

Nota: O problema é quando Jesus ou a religião se transformam em moda, produto para consumo rápido e, fatalmente, descarte posterior. Além disso, a mistura de rock com gospel pode ser interessante sob o ponto de vista comercial. Claro que existem ávidos por dinheiro e a classe evangélica é um nicho a ser explorado pelas ações de marketing. Talvez isso esteja longe, no entanto, da vida simples de Jesus Cristo tal como descrita nos evangelhos e de Sua missão que, conforme Lucas 19:10, "era a de buscar e salvar o perdido". Aproveita-se para jovens terem contato com a religião, mas é essa religião mesmo a ensinada por Cristo?

Jornal Nacional fala de design mas nega o Designer

sexta-feira, 9 de outubro de 2009 0 comentários

Copiei exatamente o que está no blog Criacionismo (www.criacionista.blogspot.com) do jornalista Michelson Borges. Muito interessante esta abordagem. Também percebi isso ontem, no Jornal Nacional.

Quase não tenho tido mais tempo de assistir a telejornais. Geralmente me informo pelas mídias impressas e pela internet, que me permitem ser mais seletivo. Mas hoje, casualmente, assisti a uma reportagem que me chamou a atenção no Jornal Nacional, da Rede Globo. A reportagem destacou a matéria de capa da edição de 9 de outubro da revista Science (imagem ao lado). O assunto é a incrível arquitetura do genoma e a capacidade que o DNA tem de armazenar quantidade formidável de informação que supera em muito os maiores computadores conhecidos. A reportagem televisiva foi recheada com outros adjetivos que deixavam claro o ar de maravilhamento dos pesquisadores e dos apresentadores, mas terminou dizendo que foi a natureza que encontrou essa "solução elegante" para armazenar informação. Nesse momento, minha filha de sete anos olhou para mim e torceu o nariz. Claro, até uma criança (desde que não condicionada pelo naturalismo filosófico) percebe a incoerência de se falar em design e informação e se negar o Designer e a fonte de informação.[MB]

Explicação da capa da Science: "First described by David Hilbert in 1891, the Hilbert curve is a one-dimensional fractal trajectory that densely fills higher-dimensional space without crossing itself. A new method for reconstructing the three-dimensional architecture of the human genome... reveals a polymer analog of Hilbert's curve at the megabase scale."

Pesquisa mostra que 13% dos brasileiros admite ter vendido voto

domingo, 4 de outubro de 2009 0 comentários

Folha de São Paulo, 04.10.2009

O brasileiro tem noção clara dos comportamentos éticos e morais adequados, mas vive sob o espectro da corrupção, revela pesquisa Datafolha inédita. Se o país fosse resultado dos padrões morais que as pessoas dizem aprovar, pareceria mais com a Escandinávia do que com Bruzundanga (corrompida nação fictícia de Lima Barreto), conclui-se deste "Retrato da Ética no Brasil".
Por exemplo, 94% dizem ser errado oferecer propina, e 94% concordam ser repreensível vender voto -um padrão escandinavo, a região do norte da Europa que engloba países como Suécia e Noruega, os menos corruptos do mundo, segundo a Transparência Internacional.
Um país em que os eleitores trocam voto por dinheiro, emprego ou presente e acreditam que seus concidadãos fazem o mesmo costumeiramente; um país em que os eleitores aceitam a ideia de que não se faz política sem corrupção; um país assim deveria ser obra de ficção, como em "Os Bruzundangas" (Ediouro), livro de Lima Barreto de 1923.
Mas o Brasil da prática cotidiana parece mais com Bruzundanga do que com a Escandinávia. O Datafolha mostra que 13% dos ouvidos admitem já ter trocado voto por emprego, dinheiro ou presente -cerca de 17 milhões de pessoas maiores de 16 anos no universo de 132 milhões de eleitores.
Alguns declararam ter cometido essas práticas de forma concomitante. Separados por benefício, 10% mudaram o voto em troca de emprego ou favor; 6% em troca de dinheiro; 5% em troca de presente.
Dos entrevistados, 12% afirmam que estão dispostos a aceitar dinheiro para mudar sua opção eleitoral; 79% acreditam que os eleitores vendem seus votos; e 33% dos brasileiros concordam com a ideia de que não se faz política sem um pouco de corrupção. Para 92%, há corrupção no Congresso e nos partidos políticos; para 88%, na Presidência da República e nos ministérios.
O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, em análise feita para o Mais!, em artigo à pág. 5, afirma que o resultado sociológico relevante da pesquisa é a convergência de opiniões sobre a corrupção e questiona os efeitos na democracia do que chama de fim da autonomia da consciência individual típica do liberalismo.
A antropóloga Lívia Barbosa, autora de "O Jeitinho Brasileiro" (ed. Campus), acredita que, apesar das desigualdades econômicas e sociais, os brasileiros das mais diferentes faixas etárias, de gênero e de renda, níveis de escolaridade e filiações partidárias pensam "corretamente" a respeito de ética, moralidade e corrupção. "Ou vivemos na Escandinávia e não sabíamos e, portanto, devemos comemorar; ou o que fazemos na prática corresponde pouco ao que dizemos que fazemos e pensamos que deveria ser feito", escreve Barbosa à pág. 9.

Nota: Nada de assustador ou espantoso nos números da pesquisa. É óbvio que governos corruptos e transgressores das leis humanas refletem o caráter dos eleitores. Não dá para pensar que um determinado político ávido por desvio de recursos tenha sido colocado naquele posto por gente que não compactua com isso verdadeiramente. Não estou aqui dizendo que todos os políticos são desonestos e tampouco que todos os eleitores agem dessa maneira, mas temos uma maioria corrupta em essência. E essa corrupção é o pecado na vida das pessoas. Não se tratam de ações pontuais, mas de uma conduta pecaminosa. Vale dizer que a Bíblia apresenta a solução. Em I João 1:9, é dito que "se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar...". Muitos não acreditam, mas Deus é que pode resolver o problema da corrupção dentro de cada um.

Índice de suicídios entre funcionários da France Télécom preocupa franceses

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Revista Veja, Semana de 4 de outubro de 2009.

Um funcionário da France Télécom, a principal empresa de telecomunicações da França, suicidou-se na pequena cidade de Alby-sur-Chéran, a 600 quilômetros de Paris, na segunda-feira passada. No bilhete deixado à esposa, o suicida culpou a empresa pelo tormento emocional em que vivia. O incidente seria apenas mais um drama familiar – a França possui uma das mais altas taxas de suicídio da Europa –, não fosse um trágico contexto. Nos últimos dezoito meses, 24 empregados da Télécom se mataram. Duas semanas atrás, um técnico em manutenção cortou o próprio ventre com um punhal durante uma reunião com quinze colegas de trabalho. Em julho, outro suicida acusou o patrão: "Faço isso por causa do meu trabalho na France Télécom; é o único motivo". O primeiro comentário do CEO da empresa, Didier Lombard, foi dizer que se matar tinha virado "moda". Agora, os sindicatos querem sua demissão. Com 100 000 funcionários, a France Télécom tem uma taxa de suicídios similar à média nacional, de 17,6 por 100 000 habitantes. Mas a sequência de mortes pôs o país em estado de choque. Não tanto pelas maldades que possam ocorrer dentro da Télécom – mas por ter feito os franceses se perguntarem o que há de errado com seu modo de vida.

Em princípio, eles vivem no melhor dos mundos. Os franceses gozam de uma jornada de trabalho folgada, um salário mínimo polpudo, férias prolongadas e aposentadoria precoce. A legislação trabalhista dificulta as demissões. Mas o ambiente é envenenado pelo temor de que a rede social que garante a assistência aos cidadãos do berço ao túmulo possa estar fazendo água. O engessamento do mercado de trabalho, que torna dificílima qualquer demissão, é um dos fatores que emperram a economia do país. Poucos franceses estão dispostos a abdicar das regalias, mas muitos são forçados a fazê-lo – sob o risco de perder o emprego. Para piorar, a crise mundial encolheu ainda mais o número de postos de trabalho: o desemprego entre os jovens chega a 25%. O resultado é um clima de insegurança em toda a sociedade. Um francês consome, em média, 29 antidepressivos por ano, quase o dobro da média na Alemanha e na Itália.

No caso da France Télécom, a onda de suicídios ocorre em um contexto de reestruturação da empresa. Privatizada em 1997, a companhia adotou um modelo de negócios mais agressivo e enxugou 40 000 nomes da folha de pagamento. Para seus 100 000 empregados, dos quais dois terços ainda são funcionários públicos, isso significou metas de produtividade, promoções por mérito e cobranças de maior eficiência. Para muitos franceses, trabalhar em um ambiente competitivo como esse é algo que fere a própria identidade nacional. Haja antidepressivos.

Nota: É uma reportagem interessante que apenas constata o que já foi analisado por muitos: as esperanças das pessoas de uma vida melhor estão sobre bases sem consistência. Claro que não é possível declarar que essa taxa alta de suicídios na França se deve a um ou outro fator apenas, mas provavelmente a um conjunto de motivos. Mas é possível perceber que, por trás, está a questão financeira. Ou seja, o abalo nas finanças pessoais pode estar levando muitos, que antes talvez não convivessem com isso, ao desespero e finalmente a uma medida extrema como tirar a própria vida. Isso me faz lembrar imediatamente das palavras do apóstolo Paulo, quando afirma, em Filipenses 4:6, que "não andeis ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplica, com ações de graça, sejam as vossas petições conhecidas diante de Deus". A reportagem diz que eles vivem, em princípio, no melhor dos mundos. Mas o que é um mundo ideal para as pessoas hoje em dia? Um mundo em que o dinheiro não acaba nunca, em que não se pode viver de maneira simples, sem tantas regalias e tecnologias à disposição? Fica para nossa reflexão.

 
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