Fortuna de líderes religiosos distorce imagem do cristianismo

domingo, 20 de janeiro de 2013 2 comentários

Portal UOL, 18.01.2013.


"Religião sempre foi um negócio lucrativo." Assim começa uma reportagem da revista americana "Forbes" sobre os milionários bispos fundadores das maiores igrejas evangélicas do Brasil.
A revista fez um ranking com os líderes mais ricos. No topo da lista, está o bispo Edir Macedo, que tem uma fortuna estimada em R$ 2 bilhões, segundo a revista.

Em seguida, vem Valdemiro Santiago, com R$ 400 milhões; Silas Malafaia, com R$ 300 milhões; R. R. Soares, com R$ 250 milhões; e Estevan Hernandes Filho e a bispa Sônia, com R$ 120 milhões juntos.

OS SEIS LÍDERES EVANGÉLICOS MILIONÁRIOS, SEGUNDO A "FORBES"

NomeFortunaIgreja
Edir MacedoR$ 2 biIgreja Universal do Reino de Deus
Valdemiro SantiagoR$ 400 miIgreja Mundial do Poder de Deus
Silas MalafaiaR$ 300 miAssembleia de Deus Vitória em Cristo
R.R. SoaresR$ 250 miIgreja Internacional da Graça de Deus
Estevam Hernandes Filho e bispa SôniaR$ 120 milhõesIgreja Renascer
  • Fonte: "Forbes"
Edir Macedo, fundador e líder da Igreja Universal do Reino de Deus, além de ser o pastor mais rico do Brasil, possui templos até nos Estados e um jato bimotor particular, de modelo Bombardier Global Express XRS, estimado em R$ 90 milhões.
Macedo tem 10 milhões de livros vendidos, alguns deles extremamente críticos à Igreja Católica e a algumas religiões africanas.
Seu maior movimento aconteceu na década de 1980, quando adquiriu a rede Record, a segunda maior emissora do Brasil. Além disso, é dono do jornal "Folha Universal", que tem uma circulação de 2,5 milhões de exemplares, e do canal de notícias Record News.
Seguindo os passos de Macedo, Valdemiro Santiago é ex-pastor da Igreja Universal do Reino de Deus. Após se desentender com o chefe, ele fundou sua própria igreja: a Igreja Mundial do Poder de Deus, que tem 900 mil seguidores e mais de 4.000 templos, muitos deles adornados com imagens dele. Sua fortuna é estimada em R$ 400 milhões.
Silas Malafaia é líder da Assembleia de Deus, a maior igreja pentecostal brasileira. Entre os pastores, ele é o mais polêmico, e se envolve frequentemente em controvérsias com a comunidade gay do Brasil, já que declara ser o maior opositor ao casamento gay.
Ele também é uma figura proeminente no Twitter, onde possui mais de 440 mil seguidores.
Em 2011, Malafaia, cuja fortuna é estimada em R$ 300 milhões, lançou uma campanha a fim de arrecadar R$ 1 bilhão para a sua igreja, com o intuito de criar uma emissora de televisão global, que seria transmitida em 137 países. Os interessados podem contribuir com somas a partir de R$ 1.000, e em troca receberão um livro.
Já o cantor, compositor e televangelista Romildo Ribeiro Soares, conhecido como R. R. Soares, é possivelmente o mais multimídia entre os pastores brasileiros. Fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus, R. R. Soares é uma das faces mais regulares da TV brasileira.
Ele também é ex-membro da Igreja Universal do Reino de Deus, além de ser cunhado de Macedo. Autointitulado "missionário", tem uma fortuna estimada em R$ 250 milhões. Sua aeronave particular, de modelo King Air 350, custa "apenas" R$ 10 milhões.
Fundadores da Renascer em Cristo, o "apóstolo" Estevam Hernandes Filho e sua mulher, a "bispa" Sônia, possuem mais de mil igrejas no Brasil e no exterior – várias delas na Flórida, nos Estados Unidos.
Com uma fortuna estimada em R$ 120 milhões, o casal foi manchete dos jornais internacionais em 2007,quando foram presos em Miami sob a acusação de levarem consigo mais de R$ 100 mil não–declarados. Algumas notas estavam escondidas em meio às páginas da Bíblia, segundo agentes norte-americanos.
Eles voltaram ao Brasil um ano depois, onde respondem por outros crimes, entre eles a queda do teto de um de seus templos, que deixou nove pessoas mortas em 2009.
Entre seus ex-fiéis mais conhecidos, está o jogador de futebol Kaká, que doou mais de R$ 2 milhões no período em que frequentou a igreja. Ele deixou a instituição após as denúncias de fraude envolvendo o casal Hernandes.
Ser um pastor evangélico no Brasil é o sonho de muitas pessoas, de acordo com a Forbes. Diferente de muitas igrejas protestantes, que requerem que seus pastores tenham uma graduação, as igrejas neopentecostais brasileiras oferecem cursos intensivos para "criar" pastores com um custo de R$ 700, para poucos dias de aula.
Não é apenas uma questão de dinheiro – Malafaia, por exemplo, chega a pagar salários de R$ 20 mil a seus pastores mais talentosos – mas também de poder, segundo a reportagem.
Muitos pastores brasileiros conseguiram passaportes diplomáticos nos últimos anos. Alguns, especialmente os mais ricos, são cortejados por políticos em época de eleições. Para finalizar, igrejas são imunes a impostos.

Crescimento dos evangélicos

A Forbes também destaca o crescimento dos evangélicos no Brasil --de 15,4% para 22,2% da população na última década--, em detrimento dos católicos. Hoje, os católicos romanos somam 64,6% da população, ou 123 milhões de brasileiros. Os evangélicos, por sua vez, já somam 42 milhões, em uma população total de 191 milhões de pessoas.
Para a revista, um dos motivos do crescimento de religiões evangélicas se dá graças à teologia da prosperidade, segundo a qual o progresso material é resultado dos favores de Deus. Enquanto o catolicismo ainda prega um olhar conservador sobre o além-vida, os evangélicos --sobretudo os neopentecostais-- são ensinados a ter prosperidade nesta vida.
A fórmula parece estar funcionando. De acordo com a revista, os evangélicos formam uma parte da nova classe média brasileira, conhecida como classe C. Enquanto isso, os mais ricos e os mais pobres permanecem católicos.
Os evangélicos não só usufruem de seus bens como doam uma parte de sua renda à igreja – prática conhecida como "dízimo" e que também está presente em outras religiões cristãs. Isto faz com que certas igrejas pentecostais sejam negócios altamente lucrativos, e seus líderes, milionários. É a chamada "indústria da fé".
Outro lado
O pastor Silas Malafaia afirmou, por sua vez, que sua renda pessoal não é a informada pela revista Forbes. "Se juntarmos a receita da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que não é minha, mais a renda da Associação Vitória em Cristo, que não é minha, mais o faturamento da Editora Central Gospel, que é de minha propriedade, mais as ofertas voluntárias que recebo pelas palestras ministradas, chegaremos aproximadamente à metade do que foi anunciado pela Forbes como minha renda pessoal anual", disse, em uma nota.
"Tudo o que tenho está declarado na Receita Federal. Não devo e não temo a nada", continuou. Malafaia ainda destacou que "o que está em jogo é uma mensagem para criar na sociedade preconceito contra pastores e igrejas evangélicas".
Ele reiterou que não recebe "salário de igreja nenhuma" e informou que a Forbes "será inquirida judicialmente".
Meu comentário - Realmente a divulgação dessa lista, por parte da Forbes, tem obviamente uma conotação pejorativa no sentido de tentar mostrar que religião cristã, sobretudo evangélica, resume-se a um negócio lucrativo. Essa é a imagem que a imprensa em geral faz das religiões evangélicas. Aí me pergunto: por que essa imagem existe?
Não creio que seja algo tão gratuito como querem afirmar alguns líderes citados pela reportagem. Não estou aqui defendendo a revista que fez uma matéria com uma afirmação generalizada e equivocada. Mas a imagem de uma religião ou de qualquer instituição é constituída de pequenos pedaços como se fosse um quebra-cabeças. O problema é que, ao que parece, a imagem criada na mente não apenas dos formadores de opinião da imprensa mas do público em geral, é que líder evangélico é sinônimo de ganho ou lucratividade com a exploração da fé dos outros. De onde será que vem isso?
A Bíblia com certeza não é a origem desse conceito errôneo. Na Palavra de Deus, fica claro que não há problema algum em se obter riquezas. Abraão, Jó, Salomão e outros personagens eram providos de boa condição financeira. Um dos aspectos mais importantes é que as riquezas não devem se constituir no alvo principal da vida de uma pessoa, ou seja, o ser um deus alternativo. Nem serem geradas por meios ilícitos  e nem fruto da exploração da crença das pessoas.
Se os líderes citados pela reportagem e outros tantos não se enquadram em nenhuma dessas condições devem estar tranquilos quanto à divulgação da lista. O montante realmente é alto, mas, como se tratam de empresários acima de tudo, o valor pode até se tornar justificável. 
Evidentemente a aparência disso não é das melhores e não contribui, de maneira geral, para formar uma imagem do cristianismo hoje mais semelhante à do tempo dos apóstolos. É por isso, provavelmente, que chama tanto a atenção dos meios de comunicação. 
Se o cristianismo genuíno é discreto e não opulento, o que mais vai chamar a atenção são os resultados dessa fé em ação. Caso contrário, o assunto principal vai ser esse mesmo: os ganhos dos líderes religiosos. Triste, porque o cristianismo bíblico vai muito além disso. 

Travestis lançam calendário com referências religiosas

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013 0 comentários

Portal G1, 16.01.2013.

Um grupo de travestis de Fortaleza lança nesta quarta-feira (16) a 2ª edição do “translendário”, um calendário ilustrado com imagens de travestis em referência a símbolos religiosos. Neste ano, o grupo se inspirou em santos de diversas religiões para criar os próprios deuses e santos protetores dos travestis. Em 2012, o calendário do mesmo grupo gerou polêmica ao replicar imagens sacras, como a Última Ceia, de Leonardo da Vinci, e Pietà, de Michelangelo. “No ano passado nós retratamos imagens clássicas, não apenas religiosas. Se eles entenderam isso como ofensivo, esse vai ser mais ainda”, diz o idealizador do projeto, Silvero Pereira.
 Numa das páginas do translendário 2013, há uma crucificação inspirada em um quadro de Salvador Dalí. “O objetivo não é retratar Jesus Cristo. Nós nos inspiramos em religiões e criamos nossos santos e deuses”, explica o diretor de arte do translendário, Andrei Bessa. Também na edição 2013, há a “deusa dos incubados”, inspirada no deus da mitologia nórdica Thor. “A deusa faz referência ao universo machista e preconceituoso, que mantêm gays incubados, sem assumir a homossexualidade. Nós a representamos pela figura masculina do Thor”, explica Andrei. Inspirada em uma santa católica, o grupo também criou a “Nossa Senhora Protetora das Esquinas”. “A ideia dessa santa é proteger os travestis que se prostituem nas esquinas de Fortaleza e de todo o Brasil”, explica o diretor de arte.
 O calendário com travesti também gerou polêmica em 2012 por uma denúncia feita na Assembleia Legislativa do Ceará de suposto financiamento de órgão público. Segundo Silvero, não houve o apoio financeiro denunciado pelo deputado estadual do Ceará Fernando Hugo (PSDB). “O deputado deu um tiro no pé. Toda o pronunciamento só ajudou a popularizar o nosso projeto”, diz o idealizador. Na segunda edição, o ensaio fotográfico foi feito com contribuição de pessoas que simpatizam com travestis. Eles pediram doações e arrecadaram R$ 11.200, de acordo com o Silvero Pereira. O projeto custou R$ 10 mil e o valor arrecadado restante será destinado ao Coletivo Artístico das Travestidas, um grupo de teatro, dança e música composto por travestis do Ceará.

Meu comentário - O ponto que eu quero ressaltar nessa notícia tem a ver com esse interesse em tornar a religião e práticas tipicamente humanas bem próximas e combinadas. Explico melhor. Respeito a quem é travesti ou aprecia essa prática, mas não se trata obviamente de uma criação divina e nem de uma ideia defendida por personagens bíblicos cuja vida é aprovada por Deus conforme os textos das Escrituras. 
A tentativa de conectar tradições religiosas ao travestismo é um movimento que tem o objetivo primordial de chamar a atenção e ganhar notoriedade. E isso nem sempre é bom para ambos os lados.
Pode ser que o travestismo ganhe popularidade por causa do tal polêmico calendário, mas a religiosidade, principalmente aquela verdadeiramente fundamentada nos escritos bíblicos tal como revelados, talvez não tenha tanto a ganhar. 
Lamento muito o uso da religião para benefício próprio, seja qual a maneira utilizada. Publicidade barata em torno de crenças nunca é uma atitude honesta, não importa qual a origem. O exemplo bíblico de Jesus Cristo não foi o de alguém que desejou se projetar pessoalmente como opositor ao judaísmo predominante em sua época. Ele, por outro lado, mostrou desinteressado amor pelas pessoas de todas as classes. Sua vida, sim, é uma referência segura.

Justiça bloqueia bens de líder da "igreja da maconha"

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013 0 comentários

Portal UOL, 09.01.2012

A Justiça de Americana (127 km de São Paulo) decretou o sequestro dos bens de Geraldo Antonio Baptista, o Geraldinho Rastafári, 53, líder da Primeira Igreja Niubingui Etíope Coptic de Sião do Brasil, a conhecida como "igreja da maconha". Ele foi preso em agosto sob a acusação de tráfico de drogas. Com a medida, os bens do líder religioso não podem ser vendidos até que o julgamento dele ocorra pela Justiça.

"Perdemos nossa liderança, então o movimento cai um pouco. Muitos universitários, principalmente, ficaram com receito após a prisão. Mas continuamos funcionando normalmente", disse. Procurado, o Ministério Público não se pronunciou sobre o caso.

A próxima audiência do caso está marcada para o dia 17 de janeiro, segundo informações do Fórum de Americana. Geraldinho foi preso em flagrante, em 15 de agosto do ano passado, quando foram encontrados 37 pés de maconha em sua casa.

Na ocasião, dois jovens de 18 anos foram presos e um adolescente foi apreendido. Ele afirmou que a planta é cultivada para uso religioso, o que é permitido pela legislação brasileira, e consumida apenas em ocasiões de culto, mas acabou sendo enquadrado por tráfico.

Manifesto
À espera de julgamento, Marlene e os adeptos da "igreja da maconha", bem como defensores da causa, têm usado a internet para realizar uma campanha a favor da libertação de Geraldinho.

Até a tarde de hoje, mais de 3.200 pessoas já assinaram uma petição virtual pedindo a libertação de Geraldinho. Segundo Marlene, o grupo também pede o auxílio de entidades como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Segundo os advogados de Geraldinho, ele irá dizer, durante o julgamento, que a maconha pode ser usada de forma ritual nos cultos da igreja e que, ao não permitir que isso ocorra, a Justiça desrespeitaria o item constitucional que garante liberdade religiosa aos brasileiros.

"Nosso objetivo é defender não só a liberdade do Geraldinho, mas também a liberdade religiosa, garantida a todos os brasileiros pela Constituição", afirmou Marlene. "O uso cerimonial da cannabis [nome científico da maconha], que para os adeptos da cultura Rastafári Niubingui é sagrado."

Meta
A meta do grupo é fazer com que o caso chegue o mais rapidamente possível só STF (Supremo Tribunal Federal), corte que julga casos que envolvem preceitos constitucionais.

A defesa usará a mesma argumentação já elaborada para a religião do Santo Daime, que usa em seus cultos um chá elaborado com a alucinógena ayahuasca.

"Nossos advogados são os mesmos, e nosso objetivo é provar que podemos usar a canabis ritualmente", disse Marlene.
Nota: É quase surreal a reportagem feita com o líder desse grupo que se diz religioso. É preciso respeitar todas as manifestações de crença ou descrença que existem, mas alguns aspectos precisam ser pontuados. Um deles é que não há qualquer registro na literatura judaica ou cristã que relacione o uso da maconha com qualquer um dos emblemas da ceia de Cristo ou algo do gênero. Desconheço esse tipo de associação e creio que seja mera invencione para justificativa do grupo em questão.
Outro aspecto é que o Tetraidrocanabinol ou THC, uma das principais substâncias psicoativa presente na maconha, tem comprovados efeitos nocivos para o cérebro humano e clinicamente já se sabe que altera a capacidade de entendimento. Esse fator é totalmente incongruente com o ensino bíblico de que adoramos a Deus com a mente limpa, clara e livre de alterações químicas com efeitos alucinógenos. Não há, portanto, compatibilidade alguma entre o uso de um entorpecente e a religião que liga o homem a Deus. A não ser que o conceito de Deus seja distorcido completamente  e usado de forma indevida ou, no mínimo, contrário ao que a Bíblia preconiza.
Parece muito mais um grupo de apologia ao uso da maconha do que uma religião que se propõe a realmente melhorar a vida das pessoas. Liberdade de culto todos devem ter, mas isso implica oferecer algo que, pelo menos, não tenha repercussão negativa para adultos e até crianças que porventura vão se espelhar nos pais que fazem parte de grupos como esse. 

Como a Internet muda relação dos fiéis com igrejas

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013 0 comentários


Revista IstoÉ, Primeira semana de janeiro de 2013


Em visita à Itália, há dez anos, o padre carmelita brasileiro Reginaldo Manzotti perambulava pela cidade do Vaticano, a sede mundial do catolicismo, quando resolveu entrar em uma igreja para fazer uma oração. Para sua surpresa, o religioso descobriu que era proibido acender velas de cera dentro daquele templo. Os fiéis só podiam se valer das artificiais, que funcionam com lâmpadas, acionadas por moedas. Imediatamente, Manzotti pensou: “Se em Roma é válido eu acender uma vela que não queima ou faz fumaça, por que não criar uma vela pela internet?” Uma década depois, o pároco do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba, no Paraná, é um dos sacerdotes brasileiros mais atentos às possibilidades da evangelização digital. Aos 42 anos, é dono de um blog, possui perfil no Facebook, conta no Twitter e atua em rádio e tevê. Seu site recebe cerca de 1,1 milhão de visitas por mês, de gente que se vale dos rituais online disponíveis em um santuário virtual. Nesse espaço, a procura por serviços religiosos digitais só cresce (leia quadro). No mês passado, por exemplo, 148 mil pessoas acenderam uma vela via computador, 12 mil a mais do que no mês anterior. “É um novo modo de ser religioso”, afirma o padre Evaldo César de Souza, 35 anos, que dirige o portal A12 do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, no interior de São Paulo, outro que possibilita que sejam feitas novenas, vias-sacras e pedidos de orações virtuais.

Ainda não foram produzidas estatísticas capazes de medir o universo do fiel-internauta que procura Deus com o auxílio de um intermediário tecnológico. A rápida disseminação dessa prática entre católicos e evangélicos, porém, é visível e tem pautado estudiosos em comunicação religiosa. Somente nos dois últimos meses, quatro obras que investigam o tema passaram a ocupar as prateleiras do País. Autor de “E o Verbo Se Fez Bit”– a Comunicação e a Experiência Religiosas na Internet” (Editora Santuário), Moisés Sbardelotto verificou uma revolução ao pesquisar como se dava a manifestação religiosa em quatro sites católicos brasileiros. De acordo com ele, o fiel se transformou em coprodutor da própria fé, enquanto a Igreja, em vez de exigir obediência estrita, passou a conceder uma autonomia regulada e permitir, de certa forma, que um membro construa sua própria religiosidade.
Foi o que fez a católica Dulce Ponciano, 59 anos, da cidade de Governador Valadares (MG). Vivendo a cerca de três mil quilômetros de distância do santuário do padre Manzotti, ela criou um perfil no Facebook no ano passado, para interagir com esse sacerdote. Mas se viu, também, solta para dialogar sobre a sua religiosidade, inclusive com pessoas de outras denominações religiosas. Pela internet, então, Dulce ouve o programa de rádio do padre Manzotti ao mesmo tempo que posta as orações. Quase simultaneamente, seus textos são comentados pelo grupo de oração virtual criado por ela, composto por cinco mil membros. “Agora, posso expressar a minha fé de uma maneira mais livre”, diz. “Na igreja, a gente participa, mas não interage. Já a internet é uma grande catequese, uma sala de aula onde a gente debate e aprende.”
Essa desregulação social que marca os espaços disponíveis na rede coloca o fiel-internauta em contato com pessoas de diversas crenças, o que ocorreria em menor grau se ele estivesse dentro de uma igreja física. Está aí o ambiente perfeito para a pluralização religiosa. Sem a vigilância eclesiástica presente, aqueles que preferem não assumir compromissos institucionais com alguma denominação e querem crer sem pertencer se sentem em casa. Outro dado marcante desse novo modelo de vivenciar a fé: a possibilidade de o fiel se expressar de forma anônima via internet permite ao usuário confrontar posições de um líder religioso – ali, em forma de avatar – sem cerimônia, com audácia e coragem. A internet dá poder ao fiel perante as religiões. “No geral, uma denominação não fideliza o devoto por meio de rituais religiosos virtuais”, afirma José Rogério Lopes, da pós-graduação em ciências sociais na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). “Mas essas ferramentas são essenciais para a manutenção diária dos rebanhos.”
Padre Souza, do portal A12 de Nossa Senhora Aparecida, não acha que uma pessoa possa se satisfazer apenas com o consumo da religião pela internet. Mas há os que estreitam a relação com uma denominação religiosa depois de exercitar a fé no mundo virtual. Terapeuta pedagógica, a católica paulista Lourdes Santana, 47 anos, voltou a frequentar uma paróquia nas proximidades de sua casa após passar a acender velas, participar de novenas e escutar programas no ciberespaço. “Pela internet fortaleci a minha religiosidade”, diz ela, que agora vai à missa todos os domingos.
A evangélica paulista Amanda Santos frequenta a igreja Renascer em Cristo há oito meses. Fisicamente, faz isso toda quarta-feira e domingo. “Ir à igreja é necessário porque é lá que você ouve a voz de Deus”, diz ela, que é designer digital. Virtualmente, Amanda assiste às celebrações diariamente. “Enquanto trabalho, faço download de cultos no site e ainda envio as pregações para outras pessoas.” Aos 22 anos, Amanda também consegue se comunicar com líderes da Renascer via Facebook e SMS, quando precisa de alguma orientação espiritual para um assunto que a angustia. Ela não é a única que se utiliza de instrumentos desse tipo. Uma pesquisa recente mediu o alcance dos ambientes digitais a serviço da fé dos brasileiros. Depois de ouvir duas mil pessoas em oito países, o estudo, que investigou os hábitos dos usuários de dispositivos móveis e foi encomendado pela empresa de tecnologia Intel, apontou o Brasil como o lugar onde mais se discute religião por celular e tablet.
Os brasileiros lideram o ranking com 39% dos entrevistados, seguidos de australianos (8%), franceses (3%) e japoneses (1%). Ciente, portanto, de que precisa divulgar o evangelho também no mundo digital, até o papa Bento XVI, que tem o hábito de escrever à mão seus discursos e outros documentos, inaugurou este mês a sua conta no Twitter. No ano passado, ao passar a emprestar iPods aos peregrinos que visitassem a Basílica de São João de Latrão, o Vaticano já havia dado outro passo para se aproximar daqueles que se valem de recursos tecnológicos. Por meio de um aplicativo disponível no aparelho, o fiel passou a ser guiado de forma digital pela catedral da Diocese de Roma, considerada a mãe de todas as igrejas do mundo. Atrair a comunidade jovem seria uma das intenções desse novo recurso. Assim como fez o papa, que agora é seguido por mais de 1,2 milhão de pessoas no Twitter. Essa atitude do pontífice, porém, soa mais como uma mensagem de sintonia da Santa Sé com as novas tecnologias do que como uma estratégia de mercado, segundo o professor Airton Jungblut, da pós-graduação em ciências sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Para ele, mais do que procurar Jesus na internet, o fiel-internauta busca se sociabilizar para discutir os pontos de sua fé com outras pessoas, informar-se e dar sentido ao que crê.
Meu comentário - Tenho acompanhado de perto o crescente uso da web pelos membros de igrejas e considero importante entendermos que há um lado muito favorável do uso das ferramentas tecnológicas para o culto e adoração e outro negativo.
O ponto positivo é que as ferramentas como a web em toda a sua abrangência (sites, portais, redes sociais, aplicativos para conversação instantânea,etc) atraem pessoas a Deus e à Bíblia que, da maneira convencional, não seriam alcançadas com tanta rapidez e eficácia. Os jovens de determinada faixa etária estão nesse contexto. Na web, com materiais e acessos adaptados a sua linguagem, a religião de modo geral pode se tornar mais palatável para esse grupo. O fato de fugir do convencional que atende a um outro determinado tipo de público é uma das principais características da web no atendimento a membros ou pessoas que buscam conhecer mais sobre religião, Deus ou a Bíblia Sagrada.
Experimentei já a participação em campanhas pela web com jovens e vi que o retorno é muito bom, pois, inclusive, nesse ambiente virtual há possibilidade de eles exporem mais suas dúvidas e participarem efetivamente das discussões, o que é saudável para uma fé racional e sólida.
Por outro lado, no entanto, o alerta é quanto ao perigo de se transformar a religião ou mesmo Deus em algo apenas virtual, distante, banal e que pode ser "coisificado", para usar uma expressão de gente como Bauman que estudam a questão do consumo. O desequilíbrio, para qualquer um dos lados, é sempre nocivo. Ignorar a web e sua importância na fé das pessoas como instrumento de apoio é errado. Mas transformá-la em um fim em si mesmo é outro erro. 
Aqui falo de um instrumento estratégico e com bons resultados. Mas é um instrumento. Tentar torná-lo mais importante do que o contato convencional com Deus por meio da oração ou da Bíblia por meio da leitura, que para mim são basilares na comunhão eficaz, não faz qualquer sentido também.

 
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