Black Friday ou Dia de Ações (quase) de Graça

sexta-feira, 29 de novembro de 2013 0 comentários

E viva a sociedade capitalizada, ávida por compras, hipnotizada pelas ofertas, em luta constante para superar seus dois maiores opositores: sua própria cobiça e a cobiça do vizinho. E não é mérito apenas dos estadunidenses, canadenses, europeus e outros pais do consumo. É coisa dos brasileiros, dos latino-americanos, dos amantes do crédito e de tudo o que ele pode representar.
O feriado religioso norte-americano do Dia de Ação de Graças é engraçado porque ele vem inevitavelmente associado ao tal do Black Friday (sexta-feira “negra”). Não é diferente do Natal, da Páscoa, do Dia das Mães, do Dia dos Pais, do Dia dos Namorados, etc.
A promessa nessas datas é que você conseguirá comprar tudo o que sempre cobiçou e desejou com preços menores (quando não maquiados). É a garantia de que tudo vai ficar bem no final do ano. Afinal de contas, você estará com um novo equipamento, um novo eletrodoméstico, novas roupas, novos calçados, novos entretenimentos. Quem sabe, imaginam muitos, serão mais respeitados porque torraram boa parte dos recursos financeiros com uma quantia inimaginável de inutilidades domésticas capazes de anestesiá-los e fazê-los esquecer da dureza do trabalho, dos relacionamentos afetivos, da pressão social. Acima de tudo, exibem seu poder de consumo. Estão munidos com seus incríveis cartões de crédito com limites estratosféricos capazes de lhes fazer pensar que estão blindados contra qualquer tipo de rombo nas finanças da casa.
Vamos tomar o cerne do feriado norte-americano: gratidão. Chega o final de ano e o que menos ocupa espaço na publicidade paga, nos noticiários, nas conversas, nas mídias sociais, é a gratidão. Fala-se de consumo, de consumo, de consumo e...de consumo. É o grande negócio comprar, adquirir e acumular até que sejamos impulsionados pelo estratégico marketing a consumir novamente o que não é essencial, mas que nos é vendido como crucial para sobrevivência no mundo.
O que é crucial mesmo, para falar a verdade, é a gratidão. Cada vez mais aprendo isso. Ser grato por estar vivo (ainda que eu devesse cuidar mais da saúde), por ter um trabalho (ainda que enfrente desafios constantes), por ter uma família e principalmente por ter a certeza de um Deus pessoal que se importa com meus pensamentos equivocados ou não, com minhas pisadas de bola ou meus passos certos.
Se eu fosse mais grato, seria mais feliz. Aliás, todas as pessoas. E quem sabe precisaríamos comprar bem menos do que compramos. Quem sabe precisaríamos nos comparar menos para ver quem tem o que, quem consome mais, quem tem mais poder, mais status, mais visibilidade, mais fama, é mais honrado aqui. Quem sabe nos ajudaríamos mais. Hipóteses em torno de um mundo mais grato.
Nada contra quem aproveitou hoje as promoções do Black Friday no mundo inteiro. Tudo certo. Economizar é importante. Mas que a nossa vida não se resuma a isso. Na Bíblia, há uma expressão muito sábia que é gloriar-se. É fazer consistir sua glória em alguém ou algo. No entendimento bíblico, o único que merece isso é Deus. Em Jeremias 9:24, o texto sagrado afirma que “mas o que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor, que faço misericórdia, juízo e justiça  na terra, porque destas coisas me agrado, diz o Senhor”.

Bem claro, não? Se tem algo que vale a pena ser motivo de glória ou gratidão é o que Deus fez e faz por nós. O restante é periférico, adjacente, supérfluo. Quando eu e você acreditamos nisso, de verdade, nossa vida será radicalmente diferente. Até então, estaremos na média geral.

Os Sem Igreja somam mais de 4 milhões no Brasil

domingo, 10 de novembro de 2013 0 comentários

Reportagem de capa da revista Cristianismo Hoje, do último bimestre (outubro/novembro), trouxe uma realidade desafiadora. Segundos dados do IBGE, o número de evangélicos que se dizem cristãos, mas que não frequentam uma igreja, ultrapassa 4 milhões. Isso representa mais ou menos 10% do total de "crentes" brasileiros. Outros dados chamam ainda mais a atenção. 62% desses "desigrejados" são egressos de denominações neopentecostais e 29% dizem que não pretendem manter vínculo com outra igreja novamente. Vale frisar que aí há dados, também, do Bureau de Pesquisa e Estatística Cristã (Bepec).
A longa reportagem conversou com especialistas e tentou avaliar as causas disso. Há todo o tipo de explicações. Mas o principal extraído da reportagem (cujo conteúdo integral somente assinantes podem acessar) é que muita gente alega não ter interesse em se vincular mais a uma igreja específica por conta de descontentamento com a forma como as igrejas são administradas ou lideradas, insatisfação com a falta de envolvimento próprio em alguma coisa concreta na igreja (ou seja, se sentem membros inúteis) e alguns se dizem desinteressados pela liturgia tradicional.
A reportagem merece uma análise sob dois ângulos. O primeiro é a constatação de que as igrejas evangélicas, tais como as conhecemos hoje, não estão sendo mais relevantes para muita gente. Algumas igrejas praticamente tiraram o foco da Bíblia e dos ensinamentos de Cristo (essência do cristianismo) e apontam para outros aspectos periféricos. E quem vai em busca de Cristo acaba frustrado. Consequentemente deixa de se congregar. Além disso, pude perceber no relato dos entrevistados que a grande maioria deles, mesmo deixando de assistir regularmente a cultos em igrejas tradicionais, continua orando e estudando a Bíblia porém em grupos menores (poderíamos chamar de pequenos grupos) em casas. É um registro que não pode ser desprezado. Será que mega igrejas lotadas são sinônimo necessariamente de espiritualidade em alta? Nas estatísticas da Igreja Adventista, para dar um outro exemplo, ficou claro que a maioria dos membros ativos e envolvidos em evangelização fazem parte de congregações com até 200 membros.
A função da igreja - Mas o outro aspecto, que considero importantíssimo, é que a Bíblia esclarece que a igreja é o corpo de Cristo formado por membros com distintas funções. Não é uma invenção humana, mas divina. Ir à igreja, estar adorando com outros membros, assistir a uma escola bíblica (no caso, a sabática seria a mais coerente com os ensinamentos das Sagradas Escrituras) e fazer parte desse corpo é se desenvolver espiritualmente de forma harmônica. Estar em casa orando e estudando a Bíblia com sua família (ainda que seja algo essencial) não substitui o papel que há em se congregar em uma igreja. Não foi sem propósito que o autor de Hebreus declarou, no capítulo 10 e versículo 25, que "não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima".
Respeito a opinião dos "sem-igreja", mas essa é uma compreensão incompleta se contrastada com a Palavra de Deus. Estar em pequenos grupos ou células de oração e estudo bíblico e manter um regular culto da família são estratégicos para o crescimento em Cristo. Mas jamais poderão ser práticas que anulam a relevância de se estar em uma igreja e fazer parte ativa do corpo de Cristo e exercer ali dons específicos dados por Deus.
A principal liderança para a qual um cristão deve olhar é a de Cristo. Ele é a razão de existir da igreja. E, se alguém tem dúvida quanto à congregação onde está, que a submeta ao crivo bíblico. Mas deixar de se congregar não é a melhor opção.


 
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