E viva a sociedade capitalizada, ávida por compras,
hipnotizada pelas ofertas, em luta constante para superar seus dois maiores
opositores: sua própria cobiça e a cobiça do vizinho. E não é mérito apenas dos
estadunidenses, canadenses, europeus e outros pais do consumo. É coisa dos
brasileiros, dos latino-americanos, dos amantes do crédito e de tudo o que ele
pode representar.
O feriado religioso norte-americano do Dia de Ação de
Graças é engraçado porque ele vem inevitavelmente associado ao tal do Black
Friday (sexta-feira “negra”). Não é diferente do Natal, da Páscoa, do Dia das
Mães, do Dia dos Pais, do Dia dos Namorados, etc.
A promessa nessas datas é que você conseguirá comprar
tudo o que sempre cobiçou e desejou com preços menores (quando não maquiados).
É a garantia de que tudo vai ficar bem no final do ano. Afinal de contas, você
estará com um novo equipamento, um novo eletrodoméstico, novas roupas, novos
calçados, novos entretenimentos. Quem sabe, imaginam muitos, serão mais
respeitados porque torraram boa parte dos recursos financeiros com uma quantia
inimaginável de inutilidades domésticas capazes de anestesiá-los e fazê-los
esquecer da dureza do trabalho, dos relacionamentos afetivos, da pressão social.
Acima de tudo, exibem seu poder de consumo. Estão munidos com seus incríveis
cartões de crédito com limites estratosféricos capazes de lhes fazer pensar que
estão blindados contra qualquer tipo de rombo nas finanças da casa.
Vamos tomar o cerne do feriado norte-americano: gratidão.
Chega o final de ano e o que menos ocupa espaço na publicidade paga, nos
noticiários, nas conversas, nas mídias sociais, é a gratidão. Fala-se de
consumo, de consumo, de consumo e...de consumo. É o grande negócio comprar, adquirir
e acumular até que sejamos impulsionados pelo estratégico marketing a consumir
novamente o que não é essencial, mas que nos é vendido como crucial para
sobrevivência no mundo.
O que é crucial mesmo, para falar a verdade, é a
gratidão. Cada vez mais aprendo isso. Ser grato por estar vivo (ainda que eu
devesse cuidar mais da saúde), por ter um trabalho (ainda que enfrente desafios
constantes), por ter uma família e principalmente por ter a certeza de um Deus
pessoal que se importa com meus pensamentos equivocados ou não, com minhas
pisadas de bola ou meus passos certos.
Se eu fosse mais grato, seria mais feliz. Aliás, todas as
pessoas. E quem sabe precisaríamos comprar bem menos do que compramos. Quem
sabe precisaríamos nos comparar menos para ver quem tem o que, quem consome
mais, quem tem mais poder, mais status, mais visibilidade, mais fama, é mais
honrado aqui. Quem sabe nos ajudaríamos mais. Hipóteses em torno de um mundo
mais grato.
Nada contra quem aproveitou hoje as promoções do Black
Friday no mundo inteiro. Tudo certo. Economizar é importante. Mas que a nossa
vida não se resuma a isso. Na Bíblia, há uma expressão muito sábia que é
gloriar-se. É fazer consistir sua glória em alguém ou algo. No entendimento
bíblico, o único que merece isso é Deus. Em Jeremias 9:24, o texto sagrado
afirma que “mas o que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu
sou o Senhor, que faço misericórdia, juízo e justiça na terra, porque destas coisas me agrado, diz
o Senhor”.
Bem claro, não? Se tem algo que vale a pena ser motivo de
glória ou gratidão é o que Deus fez e faz por nós. O restante é periférico,
adjacente, supérfluo. Quando eu e você acreditamos nisso, de verdade, nossa
vida será radicalmente diferente. Até então, estaremos na média geral.