Veja OnLine, 25.01.2012, 15h36min.
Como seria o mundo se a poligamia fosse a regra? Segundo um estudo feito por pesquisadores da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, o mundo seria mais violento, com altas taxas de estupros e homicídios. A pesquisa, que acaba de ser publicada na revista Philosophical Transactions of the Royal Society, afirma que a monogamia se tornou a regra em quase todas as culturas do planeta justamente por evitar problemas que se tornariam crônicos em um sistema em que as pessoas têm mais de um cônjuge.
A razão, descobriu o estudo, é a estabilidade social que a monogamia traz, um contraponto às altas taxas de crimes como estupros, sequestros, roubos e homicídios das sociedades poligâmicas. Para os pesquisadores, grupos de homens solteiros são os responsáveis por crimes desse tipo. "A escassez de mulheres disponíveis aumenta a competição entre os solteiros", afirma Henrich. Como o número de homens e mulheres é parecido, mesmo com uma pequena maioria de mulheres, se alguns homens casam com várias mulheres, outros ficam sem nenhuma.A maioria das civilizações já permitiu alguma forma de poligamia em determinado momento de sua história. Invariavelmente, a prática beneficiava (e ainda beneficia, onde ela é vigente) os sujeitos mais poderosos, que podem sustentar mais esposas. Esses fatos intrigaram os pesquisadores, que acabaram concluindo que o bem estar social motivou a institucionalização da relação monogâmica.
"Nosso objetivo foi entender a razão de o casamento monogâmico ter se tornado a regra na maioria das nações desenvolvidas nos últimos séculos, já que historicamente a maioria das culturas praticou a poligamia", afirmou Joseph Henrich, professor de antropologia cultural.
"Nosso objetivo foi entender a razão de o casamento monogâmico ter se tornado a regra na maioria das nações desenvolvidas nos últimos séculos, já que historicamente a maioria das culturas praticou a poligamia", afirmou Joseph Henrich, professor de antropologia cultural.
O maior ganho evolutivo da monogamia, conforme a pesquisa, é garantir uma distribuição igualitária de casamentos. Com a diminuição no foco da competição, as famílias podem gastar mais tempo fazendo planos, produzindo riqueza e investindo na educação dos filhos. Além disso, a menor competição aproxima a idade média de maridos e esposas, o que faz com que a mulher ganhe poder de decisão no casamento.
Pesquisa completa e original está em http://rstb.royalsocietypublishing.org/content/367/1589/657.full?sid=e04b26cc-b99f-4549-9a61-f57d86a806bf (inglês)
Pesquisa completa e original está em http://rstb.royalsocietypublishing.org/content/367/1589/657.full?sid=e04b26cc-b99f-4549-9a61-f57d86a806bf (inglês)
Nota: Interessante essa pesquisa que afere, sob metodologia científica, os benefícios da monogamia. Na Bíblia Sagrada, existem menções de poligamia e, é importante frisar, em alguns relatos está citada também a consequência desse tipo de comportamento. Leitores atentos do livro sagrado cristão perceberão que, no caso de Jacó e Salomão, por exemplo, está clara a repercussão de o fato de esses homens terem imitado o padrão de casamento das nações não monoteístas que os circundavam. Jacó teve problemas sérios pelo fato de ter mantido duas esposas. Isso rendeu dificuldades de um maior contato de sua descendência com Deus por sucessivas gerações.
No caso de Salomão, filho de Davi, o hábito de sustentar diversas esposas e concubinas o levou a deixar seu reino fragilizado a ponto de posteriormente nem mais conseguir a unidade que ainda se mantinha desde o reinado de Saul. Além da divisão entre reino do sul e do norte, o povo hebreu amargou uma liderança corrompida com sérios problemas de conspirações que se perpetuaram por vários anos. Evidentemente isso se deu não apenas por causa de Salomão adotar a poligamia por muitos anos em sua vida, mas por afastamento generalizado da vontade de Deus na condução dos negócios de seu reino e associação de várias formas com reis que não temiam a Deus e propuseram alianças econômicas e políticas em nítida contradição à prescrição divina.
Certamente, de acordo com o relato de Gênesis, Deus não idealizou o casamento com várias mulheres e inclusive deixou claro, na lembrança dos mandamentos dados a Moisés no Sinais mais tarde, que o adultério não era uma prática aceitável. Na visão divina, a monogamia sempre foi o ideal a ser seguido. Os personagens, bíblicos ou não, que adotam a poligamia pagam o preço desse comportamento.
E o interessante é que, milhares de anos depois, as pesquisas científicas chegam a essa mesma conclusão.