Para pensar em um novo ano de maneira diferente. Uma reflexão.
Por Felipe Lemos, editor desse blog.
Pedro vai enterrar o maço de cigarro e tentar sepultar o vício. Paulo retornará ao curso trancado na universidade. Maria fará uma meia dúzia de juras de amor para o noivo com quem pretende se casar e José assistirá aos anuais dizeres das escaladas de telejornais que ecoarão a frase: “previsões para o próximo ano são otimistas”. Todos farão pedidos silenciosos por um ano melhor, menos problemas domésticos, menos impostos, mais dinheiro para o consumo fútil, menos dissabores ao lidar com os vizinhos, amigos e parentes e mais paz, saúde e alegria.
O ano novo surgirá como se fosse totalmente novo, inédito, um começo do zero, a anulação plena de tudo o foi pretérito e a perspectiva de diretrizes e conceitos absolutamente diferentes de tudo o que antes foi pensado. As esperanças se renovarão, muitas delas fundamentadas no improvável, no impossível e no inatingível. Mesmo assim, serão esperanças dignas de alimentar a fome momentânea dos carentes de um futuro, ou seja, Pedro, Paulo, Maria, José, eu e você.
Pedro será tentado a cinicamente se dizer seguro para o ano vindouro, embora se sinta temeroso quanto ao amanhã. Já Maria viajará em mente e sonho rumo aos seus desejos, enquanto Paulo baixará a cabeça e dirá, ainda que para si mesmo, que o negócio é continuar trabalhando com afinco e dedicação como se não houvesse um ano novo.
Depois do brinde da noite de virada, talvez as promessas sejam esquecidas, as lembranças voltem a jazer no passado e somente o presente tenha um significado importante. A Lua que parecia tão cheia na noite de ano-novo será a mesma de qualquer outro dia, os sorrisos de estímulo talvez se tornem choro de fracasso ou decepção e a solidariedade passageira se limitará a alguns dias.
Após o soar dos fogos artificialmente produzidos, quem sabe um esplendoroso e artificial novo ano surgirá diante da face de Pedro, Paulo, Maria, José e tantos outros anônimos ou famosos. O bater das taças cheias de espumantes alcoólicos ou não servirá como sinal para uma nova vida de alguns poucos segundos, limitada a uma brevíssima vontade de realmente ser diferente. E todos os nobres anseios futuros e aparentemente exeqüíveis disposições para o tempo vindouro se dissiparão tal como as incontáveis luzes das avenidas e residências de final de ano.
Mesmo assim, serão vontades e disposições que preencherão, ainda que por um curtíssimo espaço de tempo, as vidas de Pedro, Paulo, Maria, José, eu e você. Farão até bem, mas fariam muito mais se fossem sólidos, sinceros e racionais. São, contudo, emocionais, resultado mais do que queremos, do que efetivamente daquilo que somos. Enfim, podemos escolher se queremos viver esse Ano-Novo-Velho.
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