Gazeta Mercantil, 12.05.2008.
Vinho, cafezinho e até bebidas destiladas fazem bem ao coração. Os trabalhos apresentados em congresso promovido pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo apontaram para esta direção. A julgar pelas pesquisas dos cardiologistas, quase tudo é permitido. O doutorado de Silmara Regina Coimbra, cardiologista do Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo , é sobre os benefícios do vinho tinto - e também do suco de uva. A pesquisadora concluiu que as duas bebidas podem proteger contra a doença arterial coronariana. No início da década de 90 criou-se o termo paradoxo francês. Isso porque na França e nos países do Mediterrâneo, apesar da alta ingestão de gordura saturada, vinho tinto e azeite de oliva, as doenças coronarianas apareciam em menor incidência. A partir daí, surgiu a idéia de estudar com mais profundidade os efeitos do vinho tinto no organismo. Silmara pesquisou em pacientes com colesterol alto. Durante o período de 14 dias, eles consumiram uma dose de 250 ml da bebida de Baco. Já com o suco de uva a dosagem foi de 500 ml. Nos dois casos, houve uma dilatação na camada que cobre internamente os vasos sanguíneos, melhorando assim, a circulação. O estudo de Silmara reforça a suspeita de que os derivados da uva, se bem-dosados, são benéficos. "Nunca indicamos um tratamento clínico com álcool", destaca a cardiologista. "Mas em pacientes que costumam consumir algum tipo de bebida alcoólica, apenas orientamos a dosagem correta sem estimular o uso abusivo." Nos demais casos, cautela: se o uso não chega a ser proibitivo, é preciso orientação médica. Em diabéticos e pessoas com pressão alta, o consumo deve ser mesmo evitado. A dosagem é diferente para homens e mulheres. Para o homem, duas taças de vinho. Para a mulher, uma taça (o consumo abusivo pode levar à câncer de mama). No caso do suco de uva, há menos restrições - recomenda-se dosagem pode ser de 500 ml. O suco de uva deve ser concentrado, não diluído em água. O efeito só será benéfico se consumido com constância diária. Os malefícios do álcool não são nenhuma surpresa. Pelo contrário, são mais do que difundidos. A área médica ainda vê com certa reserva seu consumo. Admitem com mais naturalidade, no entanto, a ingestão moderada e com acompanhamento médico. Cardiologista do Hospital Albert Einstein, Elcio Pfeferman defende que as bebidas destiladas podem oferecer proteção se consumidas com moderação. "No máximo, dois drinques por dia", enfatiza o médico. Ele lembra das evidências de que as bebidas destiladas aumentam o colesterol bom, diminuindo a incidência de doenças coronarianas e as mortes por problemas cardíacos. Mas Pfeferman não aprova o consumo abusivo. "A bebida trará malefícios como derrames, enfarte do miocárdio, maior incidência de arritmias, além da dilatação do músculo cardíaco." Ele mesmo admite ser o vinho, que é fermentado, a bebida mais recomendada ao consumo diário. No caso dos destilados, todo cuidado é pouco com os excessos, absolutamente prejudiciais ao coração. Para o nosso bom cafezinho de todo dia, a recomendação também é não exagerar. O médico Luíz Antônio Machado César, do Instituto do Coração (Incor), afirma que "se consumida em excesso a cafeína faz mal à saúde, provocando o aumento dos batimentos cardíacos." Ele recomenda consumir, no máximo, quatro xícaras de chá de café filtrado por dia. Segundo ele, diabéticos devem evitar adoçantes - o café puro é mais adequado. Aos não-diabéticos, a indicação é não abusar na dosagem do açúcar e do adoçante (se possível, também consumir puro). Estudos epidemiológicos da Universidade de Harvard apontam que o café não aumenta a pressão arterial. O resultado das pesquisas feitas nos Estados Unidos e na Dinamarca mostram a diminuição dos casos de diabetes tipo 2. O Incor, a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) têm parceria para realizar pesquisas mais extensas e aprofundadas quanto aos efeitos do café sobre a população brasileira. A pesquisa contemplará grupos de diabéticos como os que não têm a doença - o objetivo é tentar avaliar a ação do café e as doenças cardiovasculares. É bom saber que todos esses elementos podem ser apreciados com a devida moderação. Pessoas com diabetes e pressão alta, precisam manter-se ainda mais alertas aos riscos do abuso. A regra, nestes casos, é seguir recomendações médicas à risca. Assim, a saúde e o nosso coração -músculo responsável pelo "bombeamento" do sangue em nosso organismo - agradecem!
Casualmente, nesta semana estava lendo sobre os efeitos da cafeína no organismo, também atestados por médicos. Entre os malefícios da cafeína, citados pelos profissionais que escreveram o material que eu lia, estavam os que dizem respeito ao sistema nervoso central o que me chamou bastante atenção. A notícia acima, portanto, causa um certo estranhamento na medida em que médicos falam bem do cafezinho desde que sem exagero. Mas, como destaquei na parte em negrito, a razão pode estar exatamente na parceria entre Incor e Abic (que representa os donos de fabricantes de café). Ou seja, o interesse é notoriamente por ganho e não há qualquer preocupação com a saúde. É por isso que toda e qualquer reportagem precisa ser lida com olhos bem abertos, consciência crítica e, especialmente na área de saúde. E evidentemente é importante se informar sobre todos os efeitos dos produtos que consumimos.
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