Documento do Vaticano sobre crise econômica comentado em detalhes

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Falei hoje na Rádio Novo Tempo (www.novotempo.com/radio) sobre as implicações do documento produzido recentemente pelo Vaticano sobre a crise econômica e global. O documento se chama Nota do Pontifício Conselho Justiça e Paz - Para uma reforma do sistema financeiro e monetário internacional
na perspectiva de uma autoridade pública de competência universal.
Documento original publicado em:


Esse Conselho é um órgão da Cúria Romana responsável por ações de promoção da justiça e da paz presidido atualmente por um bispo de Gana chamado Peter Turkson.

Quero destacar três pontos principais em relação a esse documento:

1. Para o Vaticano, a origem do problema é o liberalismo econômico sem regras e incontrolado que conduz à desigualdade social. Se relacionarmos com outros documentos anteriormente promulgados a respeito de questões morais, é possível entender que, na ótica da Santa Sé, o problema da "bolha econômica" que deu origem à crise que hoje assola os países europeus é fruto da exploração do capital especulativo e, em última instância, do liberalismo econômico desregrado.
Engraçado é que o Vaticano, através de seus bancos, também participa desse tipo de capital especulativo. Quem quiser entender melhor como o Vaticano age administrativa e sob a ótica geopolítica mundial, sugiro a leitura da obra O Poder e a glória, do jornalista inglês David Yallop.
Abaixo, a citação do documento que reforça o que estou dizendo:

"Antes de tudo, um liberalismo económico sem regras e incontrolado. Trata-se de uma ideologia, de uma forma de «apriorismo económico», que pretende tirar da teoria as leis de funcionamento do mercado e as chamadas leis do desenvolvimento capitalista, exasperando alguns dos seus aspectos. Uma ideologia económica que estabeleça a priori as leis de funcionamento do mercado e do desenvolvimento económico, sem se confrontar com a realidade, corre o risco de se tornar um instrumento subordinado aos interesses dos países que gozam efectivamente de uma posição de vantagem económica e financeira".

2.  O Vaticano entende que é preciso estabelecer uma Autoridade Política Mundial. O termo é significativo, porque faz alusão à necessidade de uma espécie de organismo/entidade/instituição que tome para si a responsabilidade de organizar-se acima dos poderes terrenos, governamentais. É fundamental compreender que a solução, conforme o documento, não está em Deus, como se poderia deduzir partindo de uma organização religiosa, mas nessa Autoridade Política Mundial. E não é difícil concluir que, pelas características apresentadas, somente o próprio Vaticano se encaixa nesse perfil. Ou seja, aí nesse ponto legislam em causa própria.

"A constituição de uma Autoridade política mundial deveria ser precedida de uma fase preliminar de concertação, da qual emergirá uma instituição legitimada, capaz de oferecer uma guia eficaz e, ao mesmo tempo, de permitir que cada país expresse e persiga o próprio bem particular. O exercício de uma Autoridade como esta, colocada ao serviço do bem de todos e de cada um, será necessariamente super partes, isto é, acima de qualquer visão parcial e de qualquer bem particular, em vista da realização do bem comum. As suas decisões não deverão ser o resultado do pré-poder dos países mais desenvolvidos sobre os países mais débeis. Ao contrário, deverão ser assumidas no interesse de todos, não só em benefício de alguns grupos, quer eles sejam formados por lobby privadas ou por Governos nacionais".

3. O documento declara, no final, que a autoridade mundial é o único horizonte que pode fazer frente a toda essa dificuldade relacionada à crise econômica global. Ou seja, apesar de a Bíblia declarar que a volta de Cristo Jesus (inclusive bem declarado isso em profecias históricas como as da estátua de Nabucodonosor, com registro em Daniel capítulo 2, o Vaticano assegura que a saída definitiva está nesse modelo de autoridade política mundial.

"Num mundo em vias de rápida globalização, a referência a uma Autoridade mundial torna-se o único horizonte compatível com as novas realidades do nosso tempo e com as necessidades da espécie humana. Mas não se deve esquecer, contudo, que esta passagem, considerando a natureza ferida dos homens, não se realiza sem angústias e sem sofrimentos".

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