Falar sobre preparação para a morte pode soar de maneira pretensiosa ou até utópica. Mas quando convivemos de perto com o assunto, torna-se quase inevitável pensar mais demoradamente nessa que, segundo a Bíblia Sagrada, é chamada de uma das últimas inimigas a serem vencidas nesse mundo. Por vários anos, trabalhei como repórter policial e me habituei a ver de perto pessoas mortas em acidentes e crimes e suas trágicas consequências.
A perda da vida humana, em um noticiário comum, é encarada quase sempre de maneira meramente estatística, burocrática e rotineira. Praticamente poucas reportagens se aprofundam em trazer à tona detalhes da vítima, de sua família e do contexto que a cercava. A morte literalmente se transforma em produto jornalístico vendável em todas as mídias e que alimenta a curiosidade alheia. Mais recentemente, com o falecimento em menos de um mês de meus avós maternos, o assunto da morte me fez raciocinar de uma maneira diferente. Não pensei mais em algo distante, banal, que ocorria na família dos outros ou que afetava apenas pessoas talvez nem tão próximas do meu círculo de amizades. As formais expressões “meus pêsames” ou “meus sentimentos” ecoaram com distinto som em meus ouvidos. A morte e suas implicações nos mais variados aspectos possíveis se acercavam da minha realidade. Popularmente, ouço dizer que ninguém consegue estar preparado para morrer. Pode ser verdadeiro se levarmos em conta o efeito muitas vezes surpreendente da vida interrompida abruptamente. Mas há coisas que me fazem pensar quando o assunto é morte.
Nossa maior preocupação deve ser a vida e não a morte – Algumas declarações de Jesus Cristo, registradas nos evangelhos, são bastante emblemáticas quanto à morte. Em Mateus 8:22, por exemplo, a afirmação de que os Seus discípulos deveriam “deixar os mortos a sepultar seus próprios mortos” evidencia a preocupação do Mestre com as implicações de se viver segundo Seus ensinos. Aqui Jesus está falando do custo do discipulado, mas é compreensível nas entrelinhas Sua orientação para que o foco dos seres humanos seja uma vida espiritualmente qualificada e não o desespero para com a morte. Isso indica que, em vez de devotar tempo e medos relativos à morte, as pessoas deveriam estar mais concentradas em passar pela experiência da santificação durante sua vida. Inclusive, no conceito ampliado pelo apóstolo Paulo, viver uma vida escondida em Cristo é preparação para a morte.
Nossa esperança está na ressurreição através de Cristo – Em muitas lápides de jazigos é comum se encontrar a célebre frase de Jesus registrada em João 11:25 onde Ele mesmo diz, acerca de si, que “eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”. Essa frase diz muito. O que gera e produz verdadeira esperança para um cristão não é apenas a promessa de ressurreição do corpo um dia, ou seja, retorno à vida. Muitos talvez vibrem pela possibilidade de não terem mais uma pele enrugada, dores nas costas, uma mente vacilante ou algo do gênero por ocasião da transformação predita por Paulo em textos em suas cartas aos coríntios. Avalio que o fato de que a grande esperança está por trás da ressurreição, isto é, na pessoa de Jesus Cristo. Ressuscitar para viver eternamente com Ele é o que efetivamente alimenta uma crença sólida. Quando leio os relatos dos primeiros capítulos de livros dos profetas Isaías, Ezequiel ou mesmo alguns capítulos da revelação dada a João no Apocalipse percebo que o grande prazer dos seres celestiais está em ter a oportunidade de adorar permanentemente a Deus em Sua perfeição. E isso justamente vem após a ressurreição, quando a morte é vencida.
A experiência de ouvir os ensinamentos amoráveis de Cristo pelos séculos dos séculos é o ápice da vitória sobre a morte. Respondendo a minha própria pergunta do título, é possível acreditar em preparação para a morte. Não estou falando de uma atitude passiva ou apática como se a morte não representasse uma grande perda. Estou falando de viver a vida com a intensidade com que Deus ensina. Algo tão profundo que nem a morte consegue travar; apenas interromper um pouquinho antes da ressurreição.
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