Por que os jovens deixam a fé?

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Site Cristianismo Hoje, 27.11.2011. 
Autoria de Drew Dick.


Mais do que em gerações anteriores, os jovens crentes entre 20 e 30 têm abandonado a fé.

Momentos importantes fazem parte da jornada de todo jovem quando ingressa na idade adulta: a chegada à universidade, o começo da carreira, a compra do primeiro apartamento, o casamento e – no caso de muitos cristãos hoje em dia – o distanciamento da fé. Para cada vez mais rapazes e moças na faixa entre os 20 e os 30 anos, tudo o que se aprendeu ao longo de anos e anos de escola dominical infantil, atividades de grupos de adolescentes ou reuniões de oração da mocidade simplesmente parece perder o sentido diante da realidade da vida autônoma e suas múltiplas possibilidades. Motivos para tal esfriamento não faltam: o sentimento de liberdade pessoal, o convite aos prazeres antes proibidos, a ênfase exagerada na vida profissional e no próprio sucesso... Longe da tutela dos pais crentes, jovens que um dia eram vistos na igreja como promissores nas mãos de Deus vão, pouco a pouco, assumindo um estilo de vida mundano. E logo já não são nem um pouco diferentes de seus amigos que jamais estiveram num culto.
Não há, dizem, uma razão específica. O que se alega é um certo cansaço da vida religiosa ou a impressão de que a história do Evangelho, afinal de contas, não é tão verdadeira assim. Todo crente conhece pessoas nesta situação. E a quantidade de gente que deixa a igreja para trás tem aumentado – só no Brasil, segundo o último Censo, já há cerca de 14% de evangélicos confessos sem ligação formal com uma igreja. A tendência é mais aguda entre os jovens adultos, e não apenas por aqui. Na última edição da Pesquisa Americana de Identificação Religiosa, um fato chamou a atenção. A porcentagem de americanos que responderam “sem religião” praticamente dobrou nas últimas duas décadas, crescendo de 8,1% nos anos 90 para 15% em 2008. O estudo também observou que assombrosos 73% deles vêm de famílias religiosas – e quase dois terços foram descritos no estudo como “ex-convertidos”.
O resultado de outra pesquisa também foi expressivo. Em maio de 2009, no Fórum de Religião e Vida Pública, os cientistas políticos Robert Putnam e David Campbell apresentaram uma pesquisa descrevendo o fato de que jovens estão abandonando a religião em “ritmo alarmante”, cinco a seis vezes mais rapidamente do que anteriormente registrado. Fato é que a sociologia já descobriu que a migração para longe da fé cristã, por parte de jovens antes engajados na vida eclesiástica, é um fenômeno crescente. E uma resposta para este fato requer primeiramente uma análise de tal êxodo e o questionamento honesto das razões pelas quais ocorre.

ABANDONO
O presidente do Barna Group, entidade cristã de pesquisas sediada na Califórnia (EUA), David Kinnaman, revela que cerca de 65% de todos os jovens de seu país afirmam ter feito um compromisso com Jesus Cristo em algum momento de suas vidas. Kinnaman entrevistou milhares de jovens para a elaboração de seu livroUnChristian. Segundo ele, a maior parte dos ‘não-cristãos’ da sociedade hoje é formada por gente que em algum momento freqüentou igreja e serviu a Jesus. “Em outras palavras, eles são nossos antigos amigos, adoradores de outrora”, acentua.
Grande parte dos pesquisadores avalia que este dramático número de abandonos espirituais por gente na faixa dos vinte e poucos anos constitui, na verdade, uma etapa no curso da vida de quem chegou à conclusão que vale mais a pena dormir até tarde ou fazer outros tipos de programa aos domingos. O sociólogo Bradley Wright salienta que a tendência da juventude ao abandono da fé é uma característica do cristianismo contemporâneo. A questão do comprometimento moral parece estar na base do processo. Donos do próprio nariz, não poucos jovens de origem evangélica começa a mudar de hábitos, sendo mais abertos a novas experiências e menos refratários àquilo que, durante anos e anos, ouviram ser pecado.
Quando o rapaz ou a moça recém-saída da casa dos pais vai morar com o companheiro, ou encontra na faculdade amigos que fazem convites para noitadas, os conflitos entre a crença e o comportamento pessoal parecem ficar inconciliáveis. Cansados de lidar com o que lhes resta de uma consciência de culpa e relutantes em abandonar aquilo que têm como conquistas pessoais, eles preferem abandonar o compromisso cristão. Para isso, podem usar como argumentos o ceticismo intelectual ou a decepção com a igreja, mas estes são apenas motivos superficiais para esconder a razão principal. A verdade é que a base de crenças acaba sendo adaptada para corresponder às ações.
“Em alguns casos, o processo é gerado por uma decepção com a igreja, levando ao esfriamento”, aponta o pastor Douglas Queiroz, da Igreja Plena de Icaraí, em Niterói (RJ). Há dez anos, ele dedica seu ministério à juventude, aconselhando não apenas novos convertidos como gente que nasceu na igreja mas em algum momento abandonou a fé. “Eles não se identificam mais com a igreja da qual faziam parte”. Para Douglas, esse fenômeno pode ser atribuído, em parte, ao momento em que o jovem vive. Isso se dá pelo distanciamento que existe entre a igreja e a sociedade. O jovem de hoje, detentor de muita  informação, não aceita esta  relação ambígua, não suporta mais viver numa subcultura ou dentro de um gueto com postura, linguajar e pensamentos distantes do cotidiano”, comenta. Mas existem também, diz o pastor, situações em que não se trata exatamente de um esfriamento espiritual. “A pessoa simplesmente descobre que sua fé não existe, ou seja, nunca houve uma experiência individual. O jovem é cristão simplesmente porque nasceu num lar de crentes e cresceu indo à igreja.”

O texto na íntegra está em http://cristianismohoje.com.br/interna.php?subcanal=23

Nota: Esse é um assunto que deveria preocupar o mundo cristão muito mais do que as guerras por audiência de programas televisivos ou pela web de evangelistas ou mesmo as discussões midiáticas que fazem alguns líderes evangélicos com o nítido intuito de se manter em evidência.  Muito se fala de uma maior busca das pessoas por religiosidade, mas dados e pesquisas que mostram o abandono da fé por parte dos jovens são passados por alto sem merecer talvez toda a atenção que deveria. 
Em primeiro lugar, é importante destacar que, apesar de grande parte dos números apresentados nesse artigo de Drew Dick ser referente a entrevistas realizadas nos Estados Unidos, o pequeno compromisso de jovens com a religião ou o progressivo descaso que se vê entre esse público não é problema apenas norte-americano. É problema mundial e que afeta, também, países como o Brasil. A diferença é que aqui as pesquisas são escassas e, quando realizadas, infelizmente não se cria uma estratégia para atuar em cima dos números que ali foram revelados.
Outro aspecto é que tudo que se elenca como razão para o abandono da fé ou desinteresse religioso de jovens praticamente converge em um mesmo ponto: esfriamento espiritual. Justificativas para o distanciamento dos jovens de sua fé são apresentadas em profusão e seguem até a linha de que os cultos religiosos precisam ser mais atrativos porque, no jargão evangélico, "o mundo" oferece coisas mais espetaculares e sensacionais. 
Só que algumas perguntas precisam ficar para nossa reflexão em relação a isso tudo e nortear uma busca sincera por saídas para essa situação: 
1) Os jovens têm encontrado espiritualidade nas igrejas?
2) Os jovens veem o exemplo de pais piedosos que mostram na prática cristianismo ou só se limitam a cobrar comportamento religioso exemplar?
3) O que o jovem mais precisa é de programas, cultos, ações e projetos incríveis ou de atenção e amizade cristã?


Deixo apenas essas três indagações, mas há várias outras que poderiam gerar trabalhos e pesquisas acadêmicas. Uma coisa me parece bem clara: os jovens possuem a mesma necessidade que qualquer outra faixa etária necessita, ou seja, a atuação de Deus em suas vidas. A diferença está em quanto se investe (e não se trata apenas de dinheiro, mas de tempo, influência, criatividade, etc) nas igrejas para que isso efetivamente aconteça e nos lares. 
Cobrar comportamento exemplar dos jovens é fácil e a maior parte da liderança cristã parece focada apena nisso. A parte mais difícil e menos atraente ainda é a de formar jovens cristãos. 

5 comentários:

  1. aurea disse...:

    É muito complexo estas questões,abrange muita coisa.Sei que a principal é:a falta de um compromisso sério,verdadeiro com o ETERNO.Quando teu coração está focado em CRISTO nada pode te abalar.Por maior que seja a tormenta,o que nos separará.[ AMOR por CRISTO].pois é .

  1. Anonymous disse...:

    Sou pastor na usb, vejo que a grande dificuldade de se manter a juventude crente e fiel esta no COMPORTAMENTO dos seus lideres. Lideres relapsos, tentam colocar jovens que refletem seus próprios comportamentos em outro patamar e logicamente isso não funciona. O grande problema da igreja esta na falta de integridade de seus lideres que não são referencia para a juventude. Se não MUDAR-MOS, eles (jovens) não mudaram.Jovem quer ver acima de tudo coerência no falar e no agir de seus lideres.

  1. Felipe Lemos disse...:

    Realmente, esses são dois fatores que realmente ajudam a explicar por que tantos jovens deixam as fileiras cristãs.
    Precisamos, mais do que nunca, ações efetivas para que esse panorama sofra alguma alteração a favor da fé.

  1. Edison disse...:

    As vezes e facil julgar os jovens quando eles saem da igreja , e procuram o mundo , eu entendo que os jovens estão procurando influencia. afinal no nosso mundo nós gostamos de estar sempre ativos , mas as vezes a própria congregação barra as ações dos jovens que estão totalmente de acordo com as doutrinas biblicas . Nesse ponto entendo que oque falta para os jovens e uma experiencia mais ativa com Deus , só quando nós entramos dentro de um hospital e la vemos muitas pessoas que precisam de esperança , é que as vezes percebemos o quão satisfatório e servir, e quando saimos de la, é possivel sentir uma renovação espiritual, mas isso muitas vezes é ocultado dos jovens, o trabalho missionario, deveria ser o principal ponto a ser trabalhado, com os jovens de todas as igrejas, eu acho a missão calebe um projeto espetaculare e acredito que esse contato, que estes jovens, terão com Deus vai trazer um retorno dentro da igreja, com o novo espirito que estes jovens encotram nos campos missionarios!!!

  1. Edison disse...:

    E facil, colocar a culpa nos Jovens, quando, eles saem da igreja, e procuram amizades no mundo!!
    mas no meu entendimento a responsabilidade não pode ser jogada somente neles, muitas vezes jovens organizam ações dentro da sociedade cristã totalmente de acordo com as doutrinas biblicas, que são bruscamente barradas pela congregação!! na minha visão, os jovens precisão ter,
    uma experiencia verdadeira com Deus . Quando um grupo de jovens por exemplo vai cantar em hospital, la encontramos pessoas que realmente precisam de esperança , as vezes as lagrimas, não se contem nos olhos, desses jovens, isso é uma experiencia, e isso, cria uma satisfação em servir, fora o sentimento de renovação espiritual, que fica dentro, de cada coração, depois de uma ação como essa, pra mim, o primeiro ponto, que deveria ser tratado dentro das Igrejas, principalmente com os jovens, deveria ser a missão , mas não, o trabalho de sómente, destribuir folhetos , e sim o trabalho de entregar parte de sua vida, e seus dons, para levar esperança a outros . Por isso, que eu acho a missão calebe um projeto fantastico, que leva os jovens, a ter realmente uma comunhão com Deus, e que depois, pode trazer um retorno positivo nas igrejas, com um espirito novo , um espirito de liderança, que essa missão, provoca nesses jovens!!

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