Revista IstoÉ, Semana de 12.02.2012.
Os ateus brasileiros têm no universo virtual uma espécie de igreja online. É ali onde o conglomerado de pessoas que negam a existência de Deus se sente à vontade para professar o desapego às religiões, manifestar os porquês de não seguir nenhuma delas e trocar ideias com outras pessoas na mesma condição. Minoria em uma sociedade crente como a nossa – os ateus fazem parte do grupo demográfico definido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como sem religião, do qual fazem parte também agnósticos e crentes sem religião, e representam 6,7% da população brasileira –, eles preferem esse canal de comunicação uma vez que, em público, ainda estão sujeitos a críticas. Duas ações, uma no Brasil e outra em Londres – onde um templo ateu deverá ser erguido até o ano que vem – pretendem pôr fim à solidão físico-intelectual desse grupo.
No domingo 12, está marcado o 1º Encontro Nacional de Ateus. Cerca de três mil pessoas estarão reunidas simultaneamente em 21 Estados e no Distrito Federal. “Precisamos sair do armário, mostrar que somos bons filhos, pais, que a moralidade independe de uma crença”, diz a estudante gaúcha Stíphanie da Silva, citando uma expressão utilizada na luta pelos direitos civis dos homossexuais. Aos 22 anos, ela é membro da Sociedade Racionalista, que organiza a ação. “O intuito principal do evento é conhecer uns aos outros e organizar a nossa força.” Soa paradoxal, porém, ateus militantes se reunirem para defender um ceticismo contra fé, religião e deuses. Agindo dessa forma, argumenta o professor Edin Abumansur, do departamento de ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(PUC-SP), o ateísmo se torna uma opção de crença, a da negação, à disposição dos que procuram coisas para acreditar, no caso, que Deus não existe.
Apesar de contraditório, os brasileiros estarão seguindo à risca, com essa movimentação, a cartilha do britânico Richard Dawkins, espécie de guru dos ateus, autor de “Deus, um Delírio”. Zoólogo, ele exorta seus pares, historicamente estigmatizados, a se assumir e encampar publicamente um debate intelectual. No século XIX, porém, a fé na ciência e na razão já pautava as discussões nas igrejas positivistas, principalmente na França, terra natal de Auguste Comte (1798-1857). Um dos pais da sociologia, ele propunha uma nova religião baseada não em uma crença, mas na capacidade humana. “Crer no homem e na sua racionalidade justifica uma militância ateísta”, afirma o professor Pedro Paulo Funari, do departamento de história da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Fora do Brasil, no entanto, ateus famosos parecem não falar a mesma língua. Dawkins criticou publicamente o filósofo suíço Alain de Botton, autor de “Religião para Ateus”, que anunciou a construção de um templo ateu no centro financeiro de Londres. “Ateus não precisam de templos, é um desperdício de dinheiro”, afirmou o zoólogo. O projeto do espaço, que terá 46 metros de altura, foi encomendado por Botton ao arquiteto Tom Greenall. Segundo o arquiteto, o templo representará a história da vida na Terra. “Cada centímetro equivale a um milhão de anos de vida”, diz Greenall.
O filósofo – que pretende começar a levantar a construção no ano que vem, após a autorização da prefeitura – defende em seu livro que os ateus não devem fechar os olhos para as religiões, mas aprender com aquilo que elas têm de bom. “Isso (a construção) poderia significar um templo ao amor, amizade, tranquilidade e perspectiva”, diz Botton. “O ateísmo de Richard Dawkins ficou conhecido como uma força destrutiva, mas há pessoas que não acreditam (em Deus) e não são agressivas contra outras religiões.” Não é o que ocorre no Brasil. A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea), por meio de uma pesquisa com seus cerca de 3,5 mil membros, descobriu que 90% deles consideram a religião um mal. Um claro efeito rebote da hostilidade crescente patrocinada por alguns religiosos.
Presidente da Atea, o engenheiro civil Daniel Sottomaior, 40 anos, faz troça da proposta de Botton, a quem se refere como um agente duplo infiltrado no movimento. E apoia com ressalvas as reuniões de ateus no Brasil. Para ele, à medida que eles conseguirem se colocar na sociedade sem medo, a necessidade de se encontrarem cairá drasticamente. “Afinal, não temos nada em comum: há gays, heteros, gente de esquerda, de direita”, diz Sottomaior. O engenheiro explica que, nos países nórdicos, com altas taxas de ateus, eles não se organizam, porque não precisam. “Por que pessoas que não acreditam em saci-pererê, por exemplo, teriam de se organizar?” Lutando pela causa juntos ou cada um por si, os brasileiros descrentes têm muito trabalho pela frente.
No domingo 12, está marcado o 1º Encontro Nacional de Ateus. Cerca de três mil pessoas estarão reunidas simultaneamente em 21 Estados e no Distrito Federal. “Precisamos sair do armário, mostrar que somos bons filhos, pais, que a moralidade independe de uma crença”, diz a estudante gaúcha Stíphanie da Silva, citando uma expressão utilizada na luta pelos direitos civis dos homossexuais. Aos 22 anos, ela é membro da Sociedade Racionalista, que organiza a ação. “O intuito principal do evento é conhecer uns aos outros e organizar a nossa força.” Soa paradoxal, porém, ateus militantes se reunirem para defender um ceticismo contra fé, religião e deuses. Agindo dessa forma, argumenta o professor Edin Abumansur, do departamento de ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(PUC-SP), o ateísmo se torna uma opção de crença, a da negação, à disposição dos que procuram coisas para acreditar, no caso, que Deus não existe.
Apesar de contraditório, os brasileiros estarão seguindo à risca, com essa movimentação, a cartilha do britânico Richard Dawkins, espécie de guru dos ateus, autor de “Deus, um Delírio”. Zoólogo, ele exorta seus pares, historicamente estigmatizados, a se assumir e encampar publicamente um debate intelectual. No século XIX, porém, a fé na ciência e na razão já pautava as discussões nas igrejas positivistas, principalmente na França, terra natal de Auguste Comte (1798-1857). Um dos pais da sociologia, ele propunha uma nova religião baseada não em uma crença, mas na capacidade humana. “Crer no homem e na sua racionalidade justifica uma militância ateísta”, afirma o professor Pedro Paulo Funari, do departamento de história da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Fora do Brasil, no entanto, ateus famosos parecem não falar a mesma língua. Dawkins criticou publicamente o filósofo suíço Alain de Botton, autor de “Religião para Ateus”, que anunciou a construção de um templo ateu no centro financeiro de Londres. “Ateus não precisam de templos, é um desperdício de dinheiro”, afirmou o zoólogo. O projeto do espaço, que terá 46 metros de altura, foi encomendado por Botton ao arquiteto Tom Greenall. Segundo o arquiteto, o templo representará a história da vida na Terra. “Cada centímetro equivale a um milhão de anos de vida”, diz Greenall.
O filósofo – que pretende começar a levantar a construção no ano que vem, após a autorização da prefeitura – defende em seu livro que os ateus não devem fechar os olhos para as religiões, mas aprender com aquilo que elas têm de bom. “Isso (a construção) poderia significar um templo ao amor, amizade, tranquilidade e perspectiva”, diz Botton. “O ateísmo de Richard Dawkins ficou conhecido como uma força destrutiva, mas há pessoas que não acreditam (em Deus) e não são agressivas contra outras religiões.” Não é o que ocorre no Brasil. A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea), por meio de uma pesquisa com seus cerca de 3,5 mil membros, descobriu que 90% deles consideram a religião um mal. Um claro efeito rebote da hostilidade crescente patrocinada por alguns religiosos.
Presidente da Atea, o engenheiro civil Daniel Sottomaior, 40 anos, faz troça da proposta de Botton, a quem se refere como um agente duplo infiltrado no movimento. E apoia com ressalvas as reuniões de ateus no Brasil. Para ele, à medida que eles conseguirem se colocar na sociedade sem medo, a necessidade de se encontrarem cairá drasticamente. “Afinal, não temos nada em comum: há gays, heteros, gente de esquerda, de direita”, diz Sottomaior. O engenheiro explica que, nos países nórdicos, com altas taxas de ateus, eles não se organizam, porque não precisam. “Por que pessoas que não acreditam em saci-pererê, por exemplo, teriam de se organizar?” Lutando pela causa juntos ou cada um por si, os brasileiros descrentes têm muito trabalho pela frente.

Nota: Não sei como foi o evento realizado nesse domingo, dia 12, quando escrevo esse comentário. A mobilização das pessoas que negam a existência de Deus e/ou se dizem sem religião deve ser respeitada dentro do mesmo conceito de liberdade religiosa e de expressão em relação a outras crenças. É perceptível, no entanto, que não há uma organização dos ateus/não religiosos e que os discursos são até contraditórios.
Uma das principais preocupações é, na verdade, quando existem ataques gratuitos contra os religiosos como já o fez um dos mais proeminentes advogados da causa, Richard Dawkins. A intolerância, da parte de qualquer um dos lados, é sempre nociva e não ajuda em nada na boa convivência. Respeito a opinião dos que se manifestam assim, mas ressalto que o maior risco é que esse tipo de movimento se caracterize por tentar desqualificar os que não pensam da mesma maneira.
Quanto a minha opinião sobre o ateísmo, acredito que muitos se posicionam dessa maneira muito mais por enxergarem a religião e Deus de uma maneira distorcida, preconceituosa e afetada por fatos até mesmo de sua infância e juventude. É possível entender isso, mas ainda creio que seja uma visão passível de mudança. Há muitas evidências no mundo natural de uma criação planejada por um ser superior que não apenas desenvolveu, mas mantém. Negar isso de forma contundente, praticamente sem argumentos consistentes e sólidos, pode ter mais a ver com uma visão pessoal e passional a respeito do assunto, do que por crença fundamentada.
É por isso que Deus, na concepção que acredito segundo a Bíblia, não é apenas um ser que simplesmente pôs o universo e os planetas em ação e posteriormente virou as costas. Entendo que Ele continue envolvido com Sua criação e isso se traduz no amor, na misericórdia, na proteção e no desejo de salvação espiritual para as pessoas. Isso me fortalece na fé que possuo em relação a Sua obra permanente na vida humana. E me faz compreender que Ele tem interesse pela minha vida. É um relacionamento pessoal que pode ser alimentado diariamente, conservado, ampliado, enfim, foge muito da visão medieval de um ser cósmico distante de tudo e de todos. E talvez dessa visão arcaica e absolutamente incompatível com o relato bíblico que estejam fugindo vários dos manifestantes pró-ateísmo e/ou não religiosos de hoje.
Ateus não necessitam de templos,mas de um local para trabalharem em seus projetos em parceria com os seus!
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