Site do Globo Ciência, 14.02.2012.
“Não ficamos de braços cruzados, dizendo que Deus criou tudo. Eu vejo um robô, por
exemplo, e fico impressionado com a inteligência humana. Mas acho que às vezes
as explicações dadas pelos evolucionistas carecem de detalhes mais abrangentes.
Então antes do Big Bang não tinha nada? A vida surgiu do nada? Tendo em vista isso,
só posso pensar que ou há uma divinização da natureza, ou existe Deus por trás da
criação”, ressalta.
Já Mario de Pinna, professor titular do Museu de Zoologia da Universidade de Paulo (USP) questiona, de cara, o termo “evolucionismo”. “Existe teoria da evolução. Temos algumas controvérsias em relação a mecanismos específicos do processo, mas não quanto à evolução em si. Não adotamos a ideia de que a vida surgiu do nada, e sim que houve uma transformação. Não é mágica. As aves são resultado da transformação de certos tipos de dinossauros, que punham ovos. Não há embate científico com o criacionismo, porque ele não existe como campo de pesquisa independente, tem apenas motivações sociopolíticas com ideias que já foram refutadas há muito tempo", diz o professor, explicando também que a ideia de seleção natural como mecanismo propulsor da evolução biológica é talvez a contribuição mais emblemática de Charles Darwin:
"A ideia é tão simples que poderia ter sido elaborada centenas, ou mesmo milhares, de anos antes. A seleção natural consiste na reprodução diferencial de indivíduos no decorrer das
gerações, com consequentes mudanças na frequência de características herdáveis (ou frequências gênicas) no decorrer do tempo. A variabilidade das populações fornece a matéria-prima sobre a qual a seleção atua, e variabilidade nova é suprida por mutações que ocorrem constantemente. Na época de Darwin e dos outros idealizadores da seleção natural, claro, não se conhecia quase nada sobre genética ou mecanismos de herança. Sabia-se, contudo, que a maioria das características dos seres vivos era herdável".
Em muitas ocasiões, os criacionistas são criticados por não apresentarem evidências científicas, o que o professor Nahor contesta. “Eu sou geólogo, tenho evidências científicas sim. Quando vejo os fósseis, é inevitável compará-los a um cemitério – eles se harmonizam com a narrativa bíblica do dilúvio. Minhas convicções criacionistas só aumentaram com o conhecimento científico, não diminuíram”, garante.
A ideia de um grande dilúvio planetário é somente um mito para o professor Mario de Pinna e para a maioria da comunidade científica. Segundo ele, é impossível entender nossa posição no mundo sem a perspectiva evolutiva. “A evolução sempre foi a melhor explicação para os fatos sobre os seres vivos. A elaboração de uma teoria evolutiva consistente durante os últimos 150 anos nos permitiu entender uma imensa gama de fenômenos biológicos. Descobertas revolucionárias, como a estrutura do DNA, somente confirmaram a perspectiva evolutiva. A organização em diferentes planos, do morfológico ao molecular, não deixa dúvidas de que as similaridades são herdadas de ancestrais comuns. O homem é um tipo de macaco, assim como é um tipo de mamífero, um tipo de vertebrado etc. A teoria evolutiva é a realização mais extraordinária da única espécie que conseguiu desvendar sua própria história”, diz.
Entenda mais a respeito da controvérsia em reportagem veiculada em 17 de junho de 2011 no programa NT Repórter, da TV Novo Tempo.
Nota: Embora a reportagem escrita tenha ouvido um pesquisador científico criacionista, nos vídeos apresentados o "representante" do conceito criacionista ouvido foi um padre, ou seja, um religioso que, ao que parece, não estuda o assunto profundamente, mas fez praticamente uma descrição de como surgiu a controvérsia com o evolucionismo. É interessante, por outro lado, a abordagem da TV sobre a controvérsia, pois, ao menos, deu voz na parte escrita ao pensamento criacionista ao contrário de outras publicações que fazem questão de não dar espaço ao contraditório como é uma das premissas básicas da apuração jornalística.
Importante a argumentação do geólogo Nahor, uma vez que apresenta pesquisas embasadas em estudos e não apenas opinião religiosa.
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