DEBANDADA DE FIÉIS

segunda-feira, 8 de maio de 2006

Revista IstoÉ - Semana de 08 a 12.05

Por Ricardo Miranda

Um estudo inédito sobre a perda de fiéis pela Igreja Católica na última década promete sacudir a assembléia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Itaici (SP), a partir da terça-feira 9. Religião e sociedade em capitais brasileiras , um ensaio de 250 páginas de Cesar Romero Jacob e Dora Rodrigues Hees, da PUC-Rio, e dos franceses Philipe Waniez e Violette Brustlein, aponta para um apartheid sócio-religioso nas cidades e mostra como o catolicismo perdeu terreno nas periferias das regiões metropolitanas. Católicos são sólida maioria nas áreas ricas e evangélicos pentecostais crescem nos cinturões pobres, chamados de "anéis pentecostais".
No período entre 1991 e 2000, o número de católicos diminuiu 10% em São Paulo – mesma média nacional –, caindo para 68% da população. No Rio de Janeiro, a perda foi de quase 9%. A maior migração ocorreu em Manaus, que viu 16,8% de seus fiéis irem embora. A cidade "menos católica" é Goiânia, onde eles encolheram de 74% para 61% do total. A menor queda aconteceu em Porto Alegre, onde 5,9% dos católicos converteram-se a outras religiões. A capital onde há proporcionalmente mais católicos é Teresina, quase 87% da população. Eles dominam as áreas centrais, onde não há propensão a se mudar de religião. Em São Paulo, bairros abastados foram pouco afetados pela onda pentecostal, que representa menos de 5% da população. Mas na periferia a disponibilidade para trocar de religião é maior. Em Guaianazes, na zona leste da cidade, os católicos não passam de 40%. No Rio de Janeiro, apenas 61% se dizem católicos na capital e 48,7% na região metropolitana. Em bairros litorâneos, eles variam de 65% a 77%. Na Baixada Fluminense, não passam de um terço da população.
O vácuo deixado pela Igreja é reflexo da baixa presença de paróquias nas periferias. O alto custo e a longa duração da formação de padres estariam dificultando a ação nas regiões. Do outro lado, os evangélicos instalam ali seus templos e arregimentam "obreiros" na comunidade. "Os desafios estão nas periferias", afirma o arcebispo de Salvador, dom Geraldo Majella, presidente da CNBB, no prefácio do livro que condensa o estudo. "Obriga-nos a reorientar a ação evangelizadora em direção a elas." É o reconhecimento do novo campo de batalha.

A debandada de fiéis não é só "privilégio" de uma ou outra religião. Todas podem sofrer esse abalo.

2 comentários:

  1. Rogério & Maxi disse...:

    Me parece que de uma lado a Fé se esvai por um grande esfriamento devido principalmente ao secularismo de nossos dias. Em outro "front" a Fé verdadeira (que resulta em compromisso e santificação) é atacada por uma forte contrafação de reavivamento "pentecostal" mais baseada em promessas de curas, quebras de maldição, línguas estranhas e outros elementos sinestésicos "com aparência de piedade". Diante destes fatos resta a pergunta "quando vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?"

  1. Felipe Lemos disse...:

    Concordo com vocês e acrescento que o segredo para uma religião se manter firme não são necessariamente os atrativos exteriores, mas a sua força interior que provém de Deus.

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