Pesquisador diz que sociedade está mais altruísta

domingo, 27 de março de 2011

Revista IstoÉ, Semana de 27.02.2011.

O americano Samuel Bowles, 71 anos, é dono de um currículo invejável. Ph.D. em economia pela Universidade Harvard, onde também foi professor durante quase uma década, atualmente ele dirige o Programa de Ciências Comportamentais do Instituto Santa Fé, na capital do Novo México, e leciona na Universidade de Siena, na Itália. Autor de diversos livros, Bowles foi conselheiro econômico em Cuba, na Grécia, do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela e dos ex-candidatos à Presidência dos Estados Unidos Robert F. Kennedy e Jesse Jackson. Seus estudos sobre a evolução genética e cultural dos humanos têm repercutido em publicações de prestígio, como as revistas “Nature” e “Science”, porque põem em dúvida nada menos do que a teoria da evolução, de Charles Darwin, e a ideia de que os homens são inteiramente egoístas. “O comportamento humano é muito mais complexo do que a teoria da evolução supõe”, diz Bowles. “A seleção natural pode, sim, produzir espécies altruístas e cooperativas.”

O sr. defende a ideia de que a gentileza foi fundamental para a evolução humana. Por quê?

Samuel Bowles -
A teoria da sobrevivência do mais gentil é uma crítica à teoria da sobrevivência do mais apto, de Charles Darwin. Diversas pesquisas feitas nos últimos anos, muitas delas por mim, têm mostrado que a seleção natural pode, sim, produzir espécies altruístas e cooperativas – em vez de seres humanos inteiramente egoístas. Darwin estava errado.

Como o sr. chegou a essa conclusão?
Samuel Bowles -
Por inúmeros fatores. A maioria das pessoas, em certas situações, é completamente altruísta. Muitas vezes, elas são generosas inclusive com estranhos e são extraordinariamente corajosas ao servir suas nações ou suas famílias. Como quando ocorrem desastres naturais ou para defender uma causa. Essa evidência de que os seres humanos não são inteiramente egoístas tem sido bastante estudada recentemente. Há diversos experimentos feitos em laboratórios que mostram que indivíduos que recebem dinheiro para dividir com outras pessoas, em geral, são generosos. Na maioria das vezes, eles fazem isso anonimamente, quando não estão sendo vigiados. Nesses experimentos, a maioria das pessoas não age de maneira egoísta, como costumávamos imaginar no passado, à luz da teoria da evolução.

Como as pessoas agem?
Samuel Bowles -
Às vezes, são incondicionalmente altruístas, do tipo Madre Tereza de Calcutá. Em outros momentos, só são altruístas enquanto outras pessoas do grupo também agem assim. As pessoas têm compromissos morais. Claro que, em muitas situações, agem por interesse próprio. O egoísmo é uma parte importantíssima do repertório humano e não pode ser ignorado. Mas é fundamental ter em mente que o comportamento humano é muito mais complexo do que a teoria da evolução supõe.


Quais sociedades o sr. ­es­­tudou?
Samuel Bowles -
Tive o privilégio de estudar um grande número de sociedades em várias partes do mundo. Junto com um time de economistas e antropólogos, estudei 15 grupos na África, na Ásia e em países da América Latina, como Peru, Equador e Paraguai. Nesse experimento, demos dinheiro para algumas pessoas dividirem com outras. A regra era: se a segunda pessoa aceitasse a quantia que a primeira ofereceu, o jogo terminaria. Mas, se rejeitasse, as duas não ganhariam nada. Supondo que uma pessoa egoísta, que recebeu US$ 10, ofereça apenas US$ 0,50, se a segunda pessoa também é egoísta, ela vai aceitar achando que é melhor ganhar 50 centavos do que sair com os bolsos vazios. Mas isso não ocorre com frequência. Ofertas pequenas, quase sempre, são rejeitadas. E as pessoas rejeitam por raiva, para punir o egoísta. Alguém pode pensar: ‘Eram só US$ 10’. Em experimentos com grandes quantidades de dinheiro os resultados têm sido os mesmos. Por generosidade ou por medo da rejeição, quase todas as ofertas ficam próximas de 50%. Estudos como esse foram feitos em pelo menos 35 universidades e 40 países.



O restante da entrevista está neste link.

Nota: Interessante este tipo de pesquisa do economista Samuel Bowles. Concordo com o questionamento dele a respeito da lógica empreendida pelas teorias de Charles Darwin sobre a questão evolutiva. No ponto em que ele fala, no entanto, a respeito da tendência humana de uma maior generosidade ou altruísmo, tenho várias dúvidas a respeito disso. Não entro aqui no mérito das pesquisas em si, mas por aquele jogo mencionado por ele não dá para afirmar categoricamente que o mundo está mais solidário. Claro que em catástrofes e acidentes de grandes proporções as pessoas mostram sinais de solidariedade, mas não se pode dizer que há um crescimento deste tipo de comportamento. E nem que apenas esta atitude represente altruísmo. Mas e a distribuição de renda completamente desequilibrada em várias regiões por ele pesquisadas como América Latina, África e Ásia? Como explicar isso pela ciência? 
Além disso, há pesquisas, como no Brasil, que demonstraram justamente uma vertente contrária entre as pessoas ouvidas. Em 2006, uma pesquisa do Ibope mostrou que 75% dos brasileiros admitem que seriam capazes de cometer irregularidades em cargos públicos. É uma pista importante de que o altruísmo não é tão latente na vida humana como apregoa o nobre economista em suas análises Até porque corrupção aparente ou praticada vai completamente de encontro a um posicionamento generoso ou solidário. 
Outra notícia curiosa e recente. Segundo um jornal especializado em filantropia, apesar de vários bilionários americanos teremo prometido doar parte de suas fortunas, 2010 foi o ano com menor soma de doações desde 2000. A informação completa está em notícias como a do Terra
Por fim, a Bíblia Sagrada mesmo declara que a generosidade humana, intimamente associada ao amor, se esfriaria nos dias atuais conforme o capítulo 24 de Mateus. Além disso, se a leitura for ampliada e se chegar a II Timóteo 3:1,2 ali está descrito um perfil do tipo de humanidade pouco antes do retorno de Jesus Cristo (também assinalado na Bíblia). Infelizmente generosidade, altruísmo e bondade não são características que tendem a ser mais encontradas nas pessoas, porém menos encontradas. Mas quem quiser realmente ser generoso deve recorrer a Cristo que é o único que pode conceder isso. Naturalmente não seremos mais bondosos com as pessoas ao nosso redor, a não ser que realmente buscarmos de Deus a força necessária para termos este tipo de atitude. Existe muitas pessoas generosas neste planeta, mas não creio que a tendência seja a de termos cada vez mais pessoas com este perfil.






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