Manifestações contra crise econômica alcançam 82 países

domingo, 16 de outubro de 2011

Folha de São Paulo, 16.10.2011.

De Wall Street para as ruas de 950 cidades de 82 países em todos os continentes.
Dezenas de milhares de manifestantes, inspirados pelo movimento que há quase um mês protesta contra a crise econômica mundial em Nova York, espalharam-se ontem pelo mundo ao pedir "união por uma mudança global".
A maioria das manifestações foi pacífica, com exceção da Itália, onde 200 mil pessoas foram às ruas de Roma estimuladas também pela decisão do Parlamento, anteontem, de manter o premiê Silvio Berlusconi no poder.
Em Roma, vários carros foram incendiados e manifestantes encapuzados destruíram agências de bancos. A polícia tentou conter os protestos com gás lacrimogêneo. Cerca de 70 pessoas ficaram feridas, três com seriedade. Todos os museus da capital foram fechados.
Berlusconi disse que os autores da violência serão "identificados e punidos". Em Nova York, onde tudo começou, 5.000 pessoas marcharam pelo distrito financeiro de Manhattan e ocuparam a Times Square. Ao menos 20 delas foram presas em um banco quando fechavam suas contas para protestar.
Sem agenda específica, a não ser uma crítica difusa ao grande capital, os manifestantes pelo mundo se organizam em grande medida por redes sociais como Facebook.
Além dos jovens dos EUA, tomam como modelo a Primavera Árabe e os "indignados" europeus. Ontem, Barcelona, na Espanha, um dos berços dos "indignados", foi a segunda cidade que registrou mais manifestantes, 60 mil. Em Madri, a Porta do Sol recebeu mais de 40 mil pessoas.
Em Portugal, os manifestantes de Lisboa e Porto também somaram 40 mil. As alemãs Berlim e Frankfurt registraram passeatas com 5.000 participantes.

ASSANGE
Em Londres, os protestos reuniram 2.000 pessoas em frente à Catedral de St. Paul. Nas escadarias da igreja, um manifestante chamou especial atenção: Julian Assange, do site WikiLeaks.
Ovacionado pelo público, ele foi depois abordado por policiais que o obrigaram a tirar uma máscara que usava. Os protestos se espalharam ainda por Ásia, Austrália e África, mas em menor escala.
Em Tóquio, 200 manifestantes se reuniram em frente à Tokyo Electric Power, operadora da central atômica de Fukushima, epicentro da catástrofe nuclear de março.
No Brasil, São Paulo, Rio, Porto Alegre e Curitiba tiveram manifestações. Na capital paulista, 200 jovens armaram barracas no Vale do Anhangabaú para passar uma semana, mas o acampamento foi desmontado a pedido de guardas civis.
No Rio, 150 pessoas se reuniram na Cinelândia, exibindo faixas contra a corrupção.

Nota: Realmente algo singular está ocorrendo no mundo. Pela primeira vez, vê-se um clamor popular pedindo urgentes reformas políticas e econômicas sob o lema de uma união por uma mudança global. Até o Brasil, costumeiro avesso a iniciativas mundiais de grande porte e conhecido até hoje pela indiferença aos problemas de âmbito planetário, ensaia os primeiros passos dentro desse movimento maior.
Alguns analistas mais apressados dirão que se trata de uma nova moda passageira que logo irá se dissipar. Pode até ser, mas não crei por algumas razões. Éinegável que os problemas econômicos que estão afetando desde os EUA até boa parte da "rica" Europa afetou a mente de muita gente. Até agora, problemas sociais, morais, catástrofes naturais, escândalos e corrupções no sistema político e até notórios problemas advindos dos maus tratos ao meio ambiente pouco abalaram a sociedade e os governos de muitas nações. Mas agora a crise chegou ao "bolso" das pessoas. Menos empregos, menos perspectiva de rentabilidade financeira de negócios a curto prazo, alguma alteração no poder de compra, etc, são fatores até o presente momento que não faziam parte da rotina de europeus e norte-americanos. Isso está mexendo com o inconsciente coletivo. E a reação começou.
Já disse isso aqui, mas vou repetir a ideia. A necessidade de uma grande mudança na ordem das coisas,  ou seja, o estabelecimento de uma nova ordem mundial em torno de uma união por mudança global - como afirma a reportagem acima bem no seu início - houve no passado e tinha como pano de fundo um panorama econômico fragilizado. O ditador alemão Hitler se ergueu, cresceu e se consolidou em meio a uma Alemanha imersa em crises social, mas sobretudo financeira. Mas se quiser ir mais ao passado, vamos ao Império Romano do Ocidente, oficialmente destituído em 476 d.C.
Muitos historiadores conceituados concordam que, quando imperadores começaram a esbanjar dinheiro com orgias, festas e prazeres específicos apenas para a corte, deixando de investir em proteção e estratégia militar eficaz, as fronteiras do gigantesco Império Romano começaram a ruir. É evidente que as investidas dos chamados bárbaros não começaram de uma hora para a outra, mas se fortaleceram com a crise financeira pela qual passou o antigo império dos césares.
Eu entendo que novamente vamos assistir a um movimento mundial para tentar conter os efeitos desastrosos de uma crise financeira de proporções globais como parece se avizinhar. Preocupo-me com a maneira como isso será feito. O que será essa união por uma mudança global? União em torno de quais princípios ou bases?
No passado, também é bom lembrar, o profeta hebreu Daniel acudiu o monarca do antigo Império Babilônico, Nabucodonosor II, quando esse teve um sonho estranho, mas significativo. No livro bíblico com o nome do profeta, capítulo 2, é possível ler o relato da interpretação do sonho acerca de uma estátua que mostra a sequência dos reinos dali em diante com predominância no mundo então conhecido até que todos foram destruídos por uma pedra não cortada por mãos. A solução para um mundo mergulhado em crises, inclusive a financeira que está tirando o sono de muitos, não é uma união humana de esforços, mas um apego a Deus.
Não creio que os líderes mundiais olharão para o Céu em busca de respostas. Mas se o fizessem, encontrariam sabedoria verdadeira para saber como agir.

0 comentários:

Postar um comentário

 
Realidade em Foco © 2011 | Template de RumahDijual, adaptado por Elkeane Aragão.