EDUCAÇÃO EM ROTA DE COLISÃO

terça-feira, 25 de julho de 2006

Por Ruben Holdorf, jornalista, educador, professor universitário e pesquisador de comunicação e educação.

Uma frase continua ecoando de uma homilia do professor Valdecir Lima, ano passado: “Se você acha caro investir em educação, experimente a ignorância.” No 12.º episódio da série norte-americana Prison Break, um dos detentos acredita que o perfil de Darwin sempre supera o de Einstein. Ou seja, a força coagindo o intelecto. Assim, a educação não se revela aos olhos daqueles que dominam as instituições como uma solução, mas uma arma revolucionária nas mãos da massa, um trampolim para a concorrência ao poder. Por isso alguns imaginam que poucos devem ter livre acesso à fonte do saber. Com o surgimento da imprensa, o renascer das artes e a reforma religiosa do século XVI, emergiram novos horizontes e se abriram lúcidas perspectivas de crescimento econômico, social, político e intelectual. A mentira começou a ser desmascarada, a opressão de séculos se encaminhou ao patíbulo e o homem se libertou das servis amarras da consciência. Atalho criado para o ressurgir e o desenvolvimento da educação.
Século XXI, Brasil. Menos de 5% da população chega ao ensino superior. Ensino médio, falido. Fundamental, na contramão da razão. Governo despreocupado. Os interesses são de outra natureza. Por enquanto, em Terra Papagalli , Darwin vence Einstein. Por quê? Porque os educadores filosofam demais, não observam aspectos práticos necessários às transformações e preferem o empirismo das falsas divagações à realidade experimentada na carne por alunos, pais, professores e administradores. Aliás, nem todos - senão a maioria - já estagiaram em sala de aula, a não ser como discentes. Às vezes, relapsos demais para assumirem tamanha incumbência. Apesar dos aparentes avanços pedagógicos, a distância entre os que sabem e os que nada ou pouco conhecem se alarga cada vez mais, aprofundando o abismo entre Darwin e Einstein. Questionada quanto ao uso inacessível de uma linguagem dita científica nos trabalhos acadêmicos, uma doutora em Educação justificou este fato com a necessidade de se perpetuar o abismo entre “educados” e “ignaros”. Como explicar isso às massas? Usando de artifícios paliativos, como programas de combate à fome, à pobreza, de estímulo à prática de esportes e de artes marciais em comunidades carentes, do uso adequado de preservativos, etc. e tal? Eis um superprojeto de seleção natural. Todavia, o único caminho para se libertar da lama, o caminho da educação, continua relegado ao esquecimento, à omissão.
Enquanto a educação receber o impacto de forças interesseiras, seja de partidos políticos, correntes filosóficas ou instituições empresariais, o sentido da reflexão quanto aos destinos da sociedade permanecerá revestido sob o lúgubre véu da ignorância. Ou a sociedade se liberta desses poderes ou realiza seu percurso de volta aos tempos de escuridão.

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