Travestis lançam calendário com referências religiosas

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Portal G1, 16.01.2013.

Um grupo de travestis de Fortaleza lança nesta quarta-feira (16) a 2ª edição do “translendário”, um calendário ilustrado com imagens de travestis em referência a símbolos religiosos. Neste ano, o grupo se inspirou em santos de diversas religiões para criar os próprios deuses e santos protetores dos travestis. Em 2012, o calendário do mesmo grupo gerou polêmica ao replicar imagens sacras, como a Última Ceia, de Leonardo da Vinci, e Pietà, de Michelangelo. “No ano passado nós retratamos imagens clássicas, não apenas religiosas. Se eles entenderam isso como ofensivo, esse vai ser mais ainda”, diz o idealizador do projeto, Silvero Pereira.
 Numa das páginas do translendário 2013, há uma crucificação inspirada em um quadro de Salvador Dalí. “O objetivo não é retratar Jesus Cristo. Nós nos inspiramos em religiões e criamos nossos santos e deuses”, explica o diretor de arte do translendário, Andrei Bessa. Também na edição 2013, há a “deusa dos incubados”, inspirada no deus da mitologia nórdica Thor. “A deusa faz referência ao universo machista e preconceituoso, que mantêm gays incubados, sem assumir a homossexualidade. Nós a representamos pela figura masculina do Thor”, explica Andrei. Inspirada em uma santa católica, o grupo também criou a “Nossa Senhora Protetora das Esquinas”. “A ideia dessa santa é proteger os travestis que se prostituem nas esquinas de Fortaleza e de todo o Brasil”, explica o diretor de arte.
 O calendário com travesti também gerou polêmica em 2012 por uma denúncia feita na Assembleia Legislativa do Ceará de suposto financiamento de órgão público. Segundo Silvero, não houve o apoio financeiro denunciado pelo deputado estadual do Ceará Fernando Hugo (PSDB). “O deputado deu um tiro no pé. Toda o pronunciamento só ajudou a popularizar o nosso projeto”, diz o idealizador. Na segunda edição, o ensaio fotográfico foi feito com contribuição de pessoas que simpatizam com travestis. Eles pediram doações e arrecadaram R$ 11.200, de acordo com o Silvero Pereira. O projeto custou R$ 10 mil e o valor arrecadado restante será destinado ao Coletivo Artístico das Travestidas, um grupo de teatro, dança e música composto por travestis do Ceará.

Meu comentário - O ponto que eu quero ressaltar nessa notícia tem a ver com esse interesse em tornar a religião e práticas tipicamente humanas bem próximas e combinadas. Explico melhor. Respeito a quem é travesti ou aprecia essa prática, mas não se trata obviamente de uma criação divina e nem de uma ideia defendida por personagens bíblicos cuja vida é aprovada por Deus conforme os textos das Escrituras. 
A tentativa de conectar tradições religiosas ao travestismo é um movimento que tem o objetivo primordial de chamar a atenção e ganhar notoriedade. E isso nem sempre é bom para ambos os lados.
Pode ser que o travestismo ganhe popularidade por causa do tal polêmico calendário, mas a religiosidade, principalmente aquela verdadeiramente fundamentada nos escritos bíblicos tal como revelados, talvez não tenha tanto a ganhar. 
Lamento muito o uso da religião para benefício próprio, seja qual a maneira utilizada. Publicidade barata em torno de crenças nunca é uma atitude honesta, não importa qual a origem. O exemplo bíblico de Jesus Cristo não foi o de alguém que desejou se projetar pessoalmente como opositor ao judaísmo predominante em sua época. Ele, por outro lado, mostrou desinteressado amor pelas pessoas de todas as classes. Sua vida, sim, é uma referência segura.

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