VATICANO DISCUTE REGULAMENTAÇÃO DE SEITAS

sexta-feira, 9 de junho de 2006

Da Agência Zenit de Notícias (Católica), 08.06.2006

Dom Gervasio Gestori, bispo de San Benedetto del Tronto, Ripatransone e Montalto, Itália, critica o mau uso que se faz do termo «tolerância», afirmando que «não pertence propriamente à reflexão cristã, mas que se trata mais de uma postura política». Disse em sua intervenção, no dia 2 de junho, no Congresso diocesano do Grupo de Investigação de Informação Socioreligiosa (GRIS) «Seitas religiosas. A deriva da tolerância». Dom Gestori ilustrou como o Estado e a Igreja podem intervir para se opor à difusão das seitas. Nesse sentido, explicou os diversos tipos de percepção da religiosidade: «Alguns afirmam que a religião é um ‘mal’ e uma ‘impostura’ que fere o homem, humilhando sua inteligência e pervertendo seu espírito e, portanto, pensam que é preciso libertar-se ‘da’ religião». «Outros --acrescentou-- são indiferentes ao fato religioso e pensam que as religiões são realidades humanas que contêm o bem e o mal; outros consideram que todas as religiões são iguais; outros pensam que a religião é de qualquer forma um bem; por último, muitos pensam que a verdadeira é uma só.» «Na base da liberdade que se deve ser respeitada e da verdade que deve ser buscada, está a dignidade da pessoa humana, que tem o direito de atuar livremente como bem pensar, e tem o dever de perseguir a verdade das coisas, porque esta é uma exigência da razão.» «A pessoa é algo absoluto e não pode ser obrigada por nada nem por ninguém, enquanto a verdade deve ser buscada e não pode deixar de ser acolhida sob pena de contradição», sublinhou. Enfrentando o fenômeno das seitas, o bispo sublinhou que deve ser combatido «sobretudo com a sã e madura formação das consciências pessoais. Mas apresenta-se também o problema público de alguma normativa de prevenção e repressão». «As leis especiais terminariam sendo, contudo, perigosas --acrescentou Gestori-- porque se correria o risco de ingerência do Estado em um campo que não é de sua competência. O Estado não pode definir o que é uma seita e não pode julgar uma doutrina religiosa.» O prelado esclareceu que «o Estado deve interessar-se pelas seitas, e em geral pela religião, quando se trata de ordem pública, mas não tem direito de ingerência nos assuntos internos de um grupo religioso». Desde este ponto de vista, observou, o problema da regulamentação das seitas fica aberto e merece que a Igreja siga atentamente sua evolução com o fim de colaborar com o Estado. Essa reflexão, assinalou, deveria «evitar que o problema objetivo das seitas possa converter-se em ocasião de ingerências na vida religiosa, ou inclusive só para conter e reduzir ao mínimo a relevância pública do fator religioso». «Poderia revelar-se como uma ameaça para a liberdade religiosa e para a profissão de fé, de qualquer fé», explicou. Pelo que se refere à postura da Igreja frente às seitas, Dom Gestori disse que «é preciso levar em conta o ensinamento de Cristo de que só ‘a verdade vos fará livres’». «Daí a necessidade de um contínuo, forte e adequado empenho de anúncio e de evangelização, para ajudar os não-crentes a afastar-se de credos errados e a aproximar-se da vida cristã, e para levar os crentes a poder gozar daquela liberdade verdadeira que nos foi doada pelo Senhor Jesus», concluiu. O Grupo de Investigação e Informação Socioreligiosa é uma associação de católicos que se constituiu em 1987. Seus fins são promover a investigação, o estudo e o discernimento, proporcionar informação e consultoria sobre religiões e sobre a fenomenologia relacionada a elas. Também cuida da formação e da atualização de educadores e agentes sobre temas pertinentes à associação.

Resta saber o que o Vaticano considera como "seitas" (igrejas que não aceitam os dogmas católicos???), mas a notícia deixa claro que o Vaticano não quer interferência do poder do Estado ou secular para cuidar desse assunto, por isso tem essa e outras instâncias para discutir o tema e posteriormente tomar providências ao que eles consideram uma ameaça à fé cristã que são as "seitas".

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