ALIENADOS TALVEZ SIM, MAS HUMANOS

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Felipe Lemos, editor desse blog.

Na China, recentemente um jovem com menos de 16 anos assassinou a mãe porque a mulher não permitiu que ele fosse a um cybercafé. Pouco tempo atrás, também na China, tão celebrada como nação em franco desenvolvimento, um rapaz de 15 anos foi encontrado morto em um local escuro desses onde as únicas luzes são as que brilham nos monitores dos PCs. A propósito, era em um cybercafé também. O motivo alegado dessas tragédias, nos dois casos, foi o vício em Internet.
É... realmente vivemos na geração em que Internet se transformou em dependência tão nociva quanto a drogadição convencional causada por substâncias químicas. Temos os adictos high-tech, os drogados do mundo virtual, enfim, chame como quiser. O problema é deles! Ou melhor...o problema é de todos nós. Sim, inclui eu e você que talvez nem façamos tanto uso do computador, mas que convivemos todos em um grande espaço chamado sociedade.
É engraçado porque na China das proibições, das repressões e das opressões a juventude talvez tente fugir pelo mundo encantado da Internet. Mas, no Brasil da democracia e da liberdade de expressão, o tempo médio de conexão é um dos maiores do planeta. Sites de relacionamento como o Orkut, invenção de um turco, são o maior sucesso especialmente por aqui. Quem não tem uma página no Orkut é considerado alienado tecnológico, desconectado da realidade inevitável, enfim, alguém completamente “por fora”. Quer dizer. Nós ficamos muito mais tempo na Internet do que eles, mas o distúrbio parece que é maior por lá. Deve haver razão suficiente para isso acontecer. Será que o problema é a tecnologia? A culpa é de quem teve a infeliz idéia de querer conectar todo mundo encurtando distâncias (pelo menos algumas), agilizando soluções e economizando meios físicos de comunicação e informação?
Minha intuição diz que não. O problema, da China e nosso, é que temos a ilusão de que o inovador substitui o simples. Em vez de dialogarmos em casa, na escola, no trabalho, na padaria, na igreja, vamos falar pelo MSN. Mande um e-mail, mas não dê um abraço. É o lema dos cidadãos do futuro. E sabe o que mais diz o lema? Não diga oi, deixe um scrap na página de Orkut de alguém. Não vá à loja conversar com os vendedores. Compre tudo através de uma página de alguém que tenha negócios no ambiente do Second Life. Ao invés de conversar com uma moça e flertar com ela, prefira o namoro “internético” horas a fio nas madrugadas. Não seja otário. Seja um otário tecnologicamente correto. É isso que nos dizem. E nós acreditamos. Nós, os brasileiros. E os chineses também. E eles ainda por cima morrem por isso. Nós ainda não (por enquanto).
Enquanto o simples for rejeitado como antiquado, obsoleto e retrógrado, vamos assistir a jovens morrendo e matando pela Internet. Um aviso a todos: a vida não é virtual. É real. Feita por pessoas de carne, osso, sentimentos e pensamentos. Não por emoctions, downloads, podcasts, etc. Tudo isso é interessante e importante até certo ponto. Mas não tem a mesma intensidade das relações humanas, cheias de complexidades que nem um micro super moderno vai imitar. Portanto, vou sair da frente desse micro e sugiro o mesmo a você. Afinal de contas, não somos nem chineses e apenas brasileiros. Somos seres humanos.

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